O DIA DA CERTEZA

A NOTÍCIA

"Morto" aparece no próprio velório

O servente de pedreiro Ademir Gonçalves quase causa a morte da mãe ao comparecer ao velório dele mesmo em Santo Antonio da Platina, Paraná. Um indigente morreu em um atropelamento na BR-153 e teve o corpo reconhecido como sendo de Gonçalves.

O corpo estava sendo velado na madrugada por familiares e amigos. E no início da manhã, o "morto" apareceu no próprio velório, surpreso com o que via e assustando a todos.

Logo, o engano foi esclarecido. O defunto era muito parecido com o servente de pedreiro, o que levou até a própria mãe de Gonçalves a confundí-lo no momento do reconhecimento do corpo.

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Fonte: http://www.bemparana.com.br/index.php?n=125803&t=morto-aparece-no-proprio-velorio 03-11-09

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A CRÔNICA

E se fosse diferente? Então os mortos passariam a aparecer no próprio velório em carne viva e olhos arregalados para conversar o último assunto que gostariam de ter com uns vivos. Aqueles de quem gostavam e de quem também não gostavam. Uma espécie de acerto de contas “post mortem” rapidinho. Apesar da presença física eles não teriam poder, por exemplo, de dar umas porradas em desafetos que lhe azucrinaram em vida. Por outro lado também não sentiriam dor em caso de levarem uns bofetes de acerto ou de revide.

Mas já imaginou o quanto de problemas não poderiam ser resolvidos com simples conversas em velórios? Quantas máscaras cairiam ante o morto questionando algum choro fingido? Um afago que pode curar uma dor que parece não acabar pela perda do ente querido? Quantos acertos de dívidas com o passado? Quanto alívio isso não provocaria em quem fica? Quanto de substância não palpável poderia ser adquirida num simples velório? Passaríamos a aprender com o eflúvio?

Eu imaginei que se fosse eu e houvesse essa possibilidade, a primeira coisa que faria seria ser pedir perdões. Talvez, com tantos que tenho por rogar eu conseguisse até mesmo acabar com todo o chororô no recinto. Cumpriria o ensinamento da oração do Pai, perdoando a quem me ofendeu e solicitando o perdão pelas minhas ofensas. Essa deve ser a hora em que se torna mais fácil a obtenção e concessão do difícil perdão mútuo.

Tenho certeza que todos iam ouvir um morto. Na dúvida se ele esteve em outra dimensão, iam ouvir. Ouvir com a devida introspecção, coisa que não se costuma fazer em vida. Creio que nessas condições um morto se torna um sábio automaticamente. É tudo que todo mundo pobre ou rico quer ouvir: palavras de um morto. Para muitas coisas. Abnegações, arrependimentos, súbitas bondades, velhas paciências, desprendimentos e compreensões de toda sorte. Também maldades irreparáveis para quem não se importa jamais com culpas de qualquer natureza.

O morto traria Certezas maiúsculas. Eis a grande sacada: a sensação da absoluta certeza, enfim. Vinda de alguém que se desvinculou de toda a matéria, ultrapassou a barreira da busca infinita dos seres e está ali, oferecendo oportunidades de redenção.

Depois, sem deixar pronta nenhuma resposta individual, nenhuma previsão ou recomendação, se esvairia, incorporando-se novamente na matéria que estava sendo velada e o momento seguinte ou os momentos seguintes ficariam por conta da capacidade, da vontade e da elevação espiritual de cada um.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 29/01/2010
Código do texto: T2057414
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