Texto para o dia de recordar um amor de verão.
Alexandre de Menezes
É provável que aquele caso tenha sido o mais engraçado e saudoso “amor de verão”. Não por grande intensidade ou pela fascinante beleza estética. O que mais agradava era relembrar das cartas e tardes cheias de onomatopéias.
Nem percebi como aconteceu, sei que, quando vi, estávamos juntos. Adorava vê-la fazendo graças. Era doce ouvi-la miar todas às vezes que a chamava de gata. Cheio de sons, os dias seguiam rapidamente e, ao chegar o momento de ir embora, a louca imitava diversos relógios e, no fim, uma sirene.
Às vezes levantava rápido personificando com gestos e barulhos uma viatura. Era o aviso que o pai bravo estava por perto. Esperto, colocava os óculos escuros e ficava observando até que ele se fosse. O velho tinha bastante ciúmes e já tornara costume, com ele, levá-la embora.
Éramos de cidades diferentes e o dia de nos separarmos estava próximo. Sem medos e, sem pensar em castigos, decidirmos correr perigo e passamos nossas últimas tardes no meu quarto de hotel onde nossas famílias estavam hospedadas. Misturávamos meu jeito urbano com as fantasias da menina filha de empresários do campo.
Recordo feliz dos momentos em que ela satisfazia suas taras. Mugia, berrava, roncava, ronronava e fazia qualquer som de animal que eu a chamasse. Ela sorria das graças e dos pedidos que eu fazia e, principalmente, quando eu perguntava: “Bela, quando o cavalo acaricia a ovelha, qual é o som que a madeira canta?” .
Melhor ainda era vê-la de olho arregalado e respirando baixinho e fazendo vários biquinhos. É que, ao ouvir a palavra piranha, apenas mímicas sabia fazer. Também recordo os reencontros na sua cidade. Época em que quase mudei meu destino. É que, para ficar perto dela, achava que deveria ser veterinário ou engenheiro agrônomo. Desejo que acabaria com a chegada do próximo amor e da próxima estação.