ESMOLAS - DAR OU NÃO DAR?

Muitas vezes me pergunto se eu devo dar esmolas. É claro que ajudar aos que estão precisando é um ato nobre, um ato de irmandade, de humanidade. Porém, os saudosos compositores, Luiz Gonzaga e Zé Dantas, na música Vozes da Seca, disseram: “mas, doutor, uma esmola a um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

Geralmente nas ruas do Recife a gente se depara com alguns homens, às vezes até jovens e saudáveis, que nos pedem ajuda alegando que vieram do interior, juntamente com esposa e filhos pequenos, à procura de emprego. Por não terem encontrado onde trabalhar precisam voltar, mas não têm dinheiro para passagem. Nesses instantes a gente se pergunta: isso é verdade ou eles estão viciados e inventam essas histórias para nos sensibilizar? E aí fica a dúvida: eu dou ou não uma esmola?

O meu amigo, poeta José Honório, acha que nesses momentos é melhor ajudar, pois pelo menos esses homens, mentindo ou falando a verdade, estão pedindo e não nos assaltando. Por esse raciocínio, a lógica é doar a esmola. Mas se for mentira, quando doarmos essa esmola estaremos incentivando o vício.

Noutras vezes, encontramos alguma mulher com uma receita médica nas mãos pedindo uma ajuda para comprar um remédio que, segundo ela, é muito caro. E a data da receita? Ninguém tem a curiosidade ou tempo de olhar para saber. Será que esta mulher está mesmo precisando daquele remédio ou a receita está mais do que vencida? Se assim for, aquela é apenas mais uma pedinte viciada.

Nos cruzamentos do Recife, quando os semáforos fecham, também nos aparecem pessoas idosas ou deficientes, senhores e senhoras, pedindo esmolas. Mas até onde eu sei, hoje todo ancião tem direito a uma aposentadoria e todo deficiente tem direito a uma pensão vitalícia por invalidez. Além disso, geralmente, eles também recebem a bolsa família. Então, porque estão pedindo? Será vício ou necessidade? Mais uma vez eu fico na dúvida, dou ou não dou esmolas a esses pedintes. Pelo sim pelo não, para desencargo de consciência, às vezes, eu ajudo.

Outro tipo de pedinte, que aparece demais, e a quem eu não dou esmola de maneira alguma, é uma mulher ou um homem com uma criança nos braços. Esse é o tipo de chantagem emocional que eu não aceito e não me toca de piedade. Posso até estar errado, mas não aceito essa chantagem.

Por fim, outra atitude que não me agrada é dar esmolas a crianças. Eu não dou porque a minha consciência fica pesada. Sinto-me como se estivesse incentivando o seu vício de pedir e nunca querer trabalhar.

O pior, é que tudo isso me deixa com uma sensação de impotência, pois não consigo fazer nada para tirar essas pessoas das ruas e não vejo as autoridades que podem, querer fazer. Mas é preciso tirá-las das ruas? Claro que é, pois lugar de criança é na escola. Lugar de idosos é em suas casas aproveitando o resto de seus dias com descanso, paz e carinho de seus familiares ou no mínimo em asilos, com direito a toda assistência necessária.

Lugar de doentes é nos hospitais, com direito aos tratamentos e seus remédios. Lugar de homens e mulheres jovens e sadios, é em empregos de onde possam tirar seus sustentos com dignidade e assim, darem o necessário aos seus filhos.

Por tudo isso, eu me pergunto: devemos ou não, dar esmolas?