O Avatar brazuca no reino de Cameron - ou: o filme sobre Lula micou!
O Avatar brazuca no reino de Cameron - ou: o filme sobre Lula micou!
Boa parte do público não quis "ir ao encontro" do filme "Lula, o filho do Brasil".
Esperavam, não sei porquê, um público de 20.000.000 de espectadores e só conseguiram 800.000 até agora. E jogam a culpa é da estratégia de lançamento, do mercado, do estouro do filme "Avatar", de James Cameron, e da falta de grana do público.
Pois, é. Mas, os produtores não desistem. Acham o filme tão fantástico, que planejam levá-lo até onde o "povo" está, numa operação que entendem ser de inclusão social.
Em termos culturais, parecem entender que levar o filme de Lula a toda a população - em especial os mais pobres, seria uma operação redentora, equivalente à oferta da Bolsa Família.
De repente, devem imaginar que o indivíduo hipossuficientemente economicamente (gostaria do sociologuêz?) pode se transformar assistindo ao filme, sofrendo um intenso processo de sociologização conjuntiva interna, que o transformaria instataneamente num gênio da raça, com voz de pato rouco e tudo.
Não duvido nada. No Brasil, acontece de tudo!...
Mas, uma rápida verificada nas justificativas de fracasso do filme e chegamos à conclusão de que a análise não passa de balela.
Ora, não houve erro na estratégia de lançamento - nem de produção. O filme era destinado, em primeiro lugar, a turbinar o culto à imagem de Lula, estabelecendo-o como a figura de um tipo resistente, líder nato, heróico e pré-destinado, como só os grandes estadistas são.
Secundariamente, queriam converter o evento numa transfusão de carisma e votos para a candidata que ele escolheu para sua sucessão, Dilma Russeff, entrando janeiro, para jogá-la no patimar de 25, 30% da preferência de voto nas pesquisas.
Se houve confusão aí, foi no sentido de achar que a popularidade extraordinária do Sr. Presidente se traduziria em público para o filme e, de popularidade se converteria em público.
E atribuir parte da culpa ao cineasta americano James Cameron só acentua o ridículo da justificativa. Ora, se o cineasta foi mais compentente em fazer um filme que agrada mais ao público com uma fantasia eco-shoo-bi-doo (com a qual perdi meu precioso tempo), ele não tem que explicar nada a ninguém, pois o cinemão americano é voltado justamente para o oferecimento de diversão ao expectador.
A tal de falta de dinheiro do público é a pior das bobagens ditas, pois o espectador pode escolher e, simplesmente não quis assistir ao filme sobre a suposta vida heróica e triunfante do capiau que virou presidente da república.
E porque não quis? Muita gente tem apontado motivos que acho razoáveis, entre os quais, o da diferença entre a figura do metalúrgico heróico dos trailers e propaganda do filme e o Lula real, que é aquele sujeito que está muito mais para Macunaíma e que-se-parece-com-tudo-mundo.
Mas pretendo apontar mais dois. A superexposição e superestimação da figura do presidente da república, que começa a parecer meio chata para muita gente (para outros - meu caso, sempre foi), pois está sempre emitindo opiniões sobre os mais díspares assuntos, sempre futebolísitico e sentencioso, anunciando boas novas nunca acontecidas ou culpando a terceiros, do presente ou do passado, entrementes invocar um acontecimento de vida pessoal para ilustrar a coisa.
Um outro motivo é que o expectador coincide com o eleitor. Mas, o eleitor médio não é um militante político. Por isso, não se dispõe a se converter em platéia obrigatória e alimentar um culto à personalidade, já que o voto não significa cabresto - muito pelo contrário.
Mas, querem levar o filme aonde "o povo está". E isso me sugere injeção de recursos públicos no financiamento da ditosa operação.
Também me faz recordar da patética caravana de saltimbancos do filme de Cacá Diegues, "Bye bye Brasil".
Imagino: a Caravana Holiday do Avatar-de-um-outro-mundo-é-possível chegando numa cidadezinha ao som de Milton Nascimento, para exibir o filme a quem interessar possa, com a foto de Lula abraçado com Dilma nas laterais do caminhão, com a mesma recepção e ambiente do filme e Diegues...
Um makin-off disso! pensará alguém...
Não vi o filme. O que escrevi aqui é inteiramente baseado em informações e críticas ou, sobre o que sei e penso de Lula. E, "a priori", não pretendo ir assistí-lo.
É que Fiquei entediado com o "Avatar", entendem?