O melhor cronista

O meu melhor cronista encontra-se na praia. Trata-se de livro velho, muito velho – e o livro velho possui particularidades hoje desconhecidas. Gosto de livro pela sensação material que ele produz cheio de sentido em minhas mãos. Pois sempre o que li é pouco, e é melhor assim. Procuro gastar o assunto sobre o acumulo excessivo de livros em casa, uma biblioteca de outro tempo para desespero de Naná.

- Lá vem, Ricardo com livros velhos. Fico distraído entre páginas mofadas, morada de traças amantíssimas, incapazes de corrigir o incorrigível: ser uma detestável ameaça ao conteúdo. Um livro com traças é como um Autor mal vestido, puído, expelido do centro da presumível sabedoria plena. Um desgraçado devorado por insetos. Por esta razão abandonado dos sustos literários que por ventura podem provocar.

Devo considerar que fui levado às frequências mais elevadas da preguiça em nome da leitura. Mal pegava um livro e o mundo podia desabar sobre as tristes criaturas do mundo. Principalmente quando lanço mão de meu cronista dileto, bacana, homem de bem, cavalheiro e dono de um pedaço de paraíso onde todos querem morar. Sendo apenas ele capaz de contar o que se passa.

Demoro uma eternidade para ler qualquer coisa a contar por simples bula para calos. Levo uma eternidade para ler E O Vento Levou. Depois é o teatro do sono quem se apodera da minha pobre alma.

Ocorre o reencontro com melhor cronista em biblioteca arcana, de praia. Mandei para o inferno a tarefa de conciliar a vida doméstica com os livros, hoje facilitada pela nova era de botões. Porém isso não me causa nenhum ressentimento, muito pelo contrário, poderei levar milhões de livros na maquineta, além de ocupar apenas o bolso do paletó. Implico que a idéia já existia, sendo de minha lavra. Por incrível que pareça isso tudo não deveria interessar a ninguém, exceto desocupados, ávidos para espremer o melhor suco possível da crônica alheia.

O velho cronista agora estava disponível para me dar lições sobre coisas, canários, bondes alados, crianças pulando da laranjeira para o futebol, seres e objetos coloridos pela tarde. O seu estoque de palavras boas sobre temas tão simples está disponível.

Tudo isso me tocou como um recado de crédito ou herança súbita. Tudo como se ele pudesse desta vez me ouvir. Já que li todas as suas crônicas, incansavelmente...

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*Vou terminando por aqui porque o rapaz do cyber marcou em cima do meu horário outro horário. A moça esperando vaga no micro já me olha com grande apreensão.