Acreditar que o passado é melhor pode ser romantismo?
Em muitas situações, principalmente em encontros familiares, escuto as pessoas relembrar os fatos da infância ou adolescência e fico pensando... O que leva os adultos na faixa etária dos quarenta ou cinqüenta pra cima pensar que a infância ou adolescência era melhor em sua época? Reflitam há trinta ou quarenta anos, o que tinha de bom? A liberdade de andar nas ruas sem medo, jogar bola no campinho, subir em árvores... Que mais? Sei lá, não me lembro de tão chata que foi a minha infância...
Neste período não existiam leis que protegessem as crianças. Os professores eram agressivos e colocavam os alunos de castigo sem piedade. Os pais batiam muito nos filhos, eu, pelo menos, tomei algumas boas surras e muitos cascudos e tapas na cabeça. Além disso, não havia leis trabalhistas para os menores como: pequeno aprendiz, estágios a partir dos dezesseis anos renumerado. Assim como os estudos não possuíam obrigatoriedade e não tinha ajuda de custo do governo para auxiliar as famílias pobres que queriam dar estudos aos filhos
. As crianças, nessa época lírica, nada mais eram do que pequenos escravos domésticos ou não seguindo uma divisão de gêneros injusta: os meninos, entre doze e quatorze anos, começavam a trabalhar fora, de preferência seguindo a profissão do pai. As meninas seguiam o padrão machista daquele momento, faziam todo trabalho doméstico da casa, também podiam apanhar tanto dos pais como dos irmãos mais velhos.
Assim como todas as ações dos adultos nunca deviam ser questionadas, éramos pequenos robôs seguindo apenas ordens. Tirei o romantismo de vocês? Enfim talvez, eu, somente, produza escritos sonhadores, realmente, não sinto saudades nenhuma da meninice. Para mim, era um tempo desagradável em que todos mandavam em mim e ao mesmo tempo ninguém me enxergava.
E a turbulência da adolescência então? Uma continuidade da infância chata e trabalhosa misturada com ao inferno humoral do adolescer. Assim se conseguíssemos nos livrar dos trabalhos domésticos,( estou falando das meninas) normalmente, teríamos que trabalhar fora e talvez estudar. Havia algumas vantagens, aos dezoito anos éramos adultos, às vezes, casados e com filhos.
Talvez, eu não tenha saudades do tempo atravessado, porque vivo muito bem o meu presente ou o meu olhar sobre passado me mostra cruamente tudo que foi cruzado. Não tenho um contemplar romântico e revisado em que aparecem somente as partes bonitas e doces. Em minhas lembranças tudo se mistura as dores e as alegrias. Porém, infância é infância... As crianças são seres alegres e felizes, pois tem a fantasia a seu favor. Assim se salvam das mágoas e conseguem acompanhar a vida com pequenas marcas superáveis. Os adultos é que possuem a tendencia a romantizar tudo que já passou.
Isa Piedras( 28/01/2010)