DIPLOMAS
            Houve um tempo em que a melhor coisa que fazia era ARTE.
            Desde adolescente desenho bem, com facilidade e prazer. Mas não pensava em desenho como arte ou profissão. Era um dom como qualquer outro que todos temos alguma coisa especial, em que nos distinguimos como melhor. Então tudo era natural.
            Mas em matéria de profissão eu não sabia o que escolher na época de vestibular. Como gostava muito de matemática, resolvi fazer engenharia, pois pensei que fazia um pouco de sentido nesta área. No primeiro vestibular “tomei pau”, ou seja, fui eliminada na primeira prova. Mas estudei muito pro ano seguinte e passei. E me formei. E trabalhei em Cálculos de Concreto Armado durante anos.
            Escrevendo neste momento, observo que estranho muito as pessoas atuais pensarem em “emprego”, em conseguirem emprego e carteira assinada, e como funcionário público de preferência.
            Nunca pensei assim. Sempre pensei “trabalho”. No trabalho, o indivíduo vai fazer algo que sabe fazer, vai realizar este algo, vai produzir. Então se ganha por este feito que, em última análise, a gente sente e sabe o quanto vale na sua capacidade e especiais valores. Por isto é que o dinheiro é importante. Ele dá uma medida de nós mesmos, dos nossos méritos, do quanto importa o nosso trabalho. O dinheiro está ligado à nossa auto-estima.
            Mas um dia, morando próxima à Escola de Belas Artes, EBA da UFRJ, resolvi fazer outro vestibular e aprender ARTE. E fiz e passei em primeiro lugar. Fiquei tão feliz e orgulhosa de mim. Pelos parentes fui ignorada, ninguém nem soube. Mas o importante mesmo foi entrar com o pé direito na ARTE. Foi maravilhoso. Fiz Escultura. Formada, abismei-me que trabalho encontraria em esculturas para cemitério. Nossa, trabalhar para a morte! Não, eu queria vida e arte, e através dela eu encontraria vida! Passei para o curso de Gravura, e foi maravilhoso também: xilo, lito e metal! Cada qual melhor, e fiz muita coisa. Engrandeceu a minha vida. Não posso viver sem arte, música, Natureza e beleza. Décadas rolaram. E não fui pegar os meus diplomas de Escultura e de Gravura.
            E ontem, com a ajuda do meu filho, fomos pegar os meus diplomas na EBA, que agora fica no Fundão. A minha filha já tinha feito contato e descobriu que os diplomas estavam lá guardados, esperando o dono.
            Um lindo acontecimento marcou um emocionante dia: peguei meus diplomas de pergaminho, perfeitamente conservados, lindo, lindo!

     Um resgate de parte de eu mesma. Tão importante tal acontecido que não sei expressar. O DIPLOMA enriquece a gente do que já somos e pensamos ser só lembrança, mas não é, somos realidade viva, grandiosa, sentimos o que somos.

     É maravilhoso!