MONTES CLAROS QUE EU AMO

De Arraial das Formigas aos Montes Claros, as gerações têm se encontrado por fé e tradição em cantos, lendas, ritos, danças, costumes e cores que aquecem os corações e enchem de alegria a alma do norte mineiro.

Montes Claros cantado em verso e em prosa como os “Claros Montes de Minas Gerais” (Tino Gomes), se enfeita em agosto para ouvir o cantar e o dançar alegre dos catopês, caboclinhos e marujos. As praças e ruas ensolaradas, revivem cortejos reais afro-brasileiros, portugueses e ameríndios, num sabor de vida, de pequi, de umbú, frutas do norte, noites de lua, modinhas, serestas( ... que saudades do Dr. Hermes de Paula), que mantêm acesa a chama do famoso “lirismo da alma brasileira”.

Quem não ouviu falar do Joaquim Nagô, por certo não é da região ou ainda não perdeu um objeto de muita estimação, pois se isto houvesse acontecido, há muito teria chamado por “êle”. Nagô escravo, acusado de matar o seu patrão com uma foice, foi inocentemente enforcado e a partir de então, começaram os milagres – uma velha paralítica abandonou as muletas e até hoje Nagô é invocado principalmente para encontrar objetos perdidos.

Quanta riqueza, quanta imaginação e como se mantêm ricas as velhas tradições neste Montes Claros !

Quem diria, o famoso São Gonçalo, santo casamenteiro das moças velhas, nascido em Amarante, Portugal, centro das atenções das coroas beatas rezadeiras da região, volta gloriosamente a ser cantado e dançado na Europa e Estados Unidos com o nosso não menos famoso conjunto “ Banzé”.

E as brincadeiras (cabra cega, velha quereca),as histórias sem fim (era uma vez um galo pedrês,quer que lhe conte outra vez ?),os trava línguas (toco preto, toco crespo, toco preto, toco crespo),os provérbios (quem com porco mexe, farelo come), as advinhações (o que é o que é, de boca para cima está vazio e de boca para baixo está cheio ?),as expressões populares(roer a corda), as supertições (homem velho quando muda de casa é sinal de que vai morrer), o reisado, as pastorinhas e os desafios de viola.

Aqui todos nós fazemos a nossa “fezinha” com a medicina popular e com as benzedeiras – “eu levo meu filho ao médico, mas benzer não faz mal prá ninguém, né?”.

E assim vai o norte mineiro vivendo, cantando e passando para as novas gerações todo um calor e filosofia de vida que faz destes Claros Montes, um lugar muito especial - os tempos mudam, mas a essência fica.

Raquel Crusoé
Enviado por Raquel Crusoé em 28/01/2010
Reeditado em 28/01/2010
Código do texto: T2055806
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