as ervas daninhas

Decepção tem sido algo rotineira. Sinto-me semi anestesiada com relação a isso. Mas quando esta começa a dominar o tempo integral ela causa uma certa náusea. E decepção, decepcção mais decepção, e a sensação é de inutilidade da minha persona...

O caminho para o filme, me vi numa estrada reta e longíngua de mão dupla. Estava a 80km/h, do outro lado da pista vinha um ônibus azul grande, não sei a velocidade dele, o que importa? Tive vontade de virar o volante e me jogar contra ele, seria uma daquelas batidas frontais horríveis que quando estamos fazendo auto-escola eles passam o vídeo para nos assustar. Seria horrível mesmo, me imagino ser jogada para fora a metros, talvez cairia de cara no cerradão deserto. Teria as partes do corpo quebradas, numa mistura de sangue, terra e grama, alí ainda seria eu ou seria um cadáver. Depois chegaria ambulância para me socorrer, então os meus pais seriam avisados. Um chororo no corredor do hospital. Se eu não acordar, ninguém nunca vai entender o porque do acidente. A imagem apenas passou pela minha mente, fazendo parte dos meus devaneios.

''Uma planta é considerada erva daninha quando nasce espontaneamente em local e momento indesejado, podendo interferir negativamente na agricultura. Em geral, é conhecida com diferentes sinônimos, que podem ter significado negativo: planta daninha, planta invasora, inço, mato. " (Wikipedia) As ervas daninhas, esse foi o filme que fui assitir depois de uma amiga furar comigo para uma festa "hilária'', me senti rejeitada e só, pensei que seria interessante ver um filme sozinha para refletir algumas coisas que andam me rondando, escolhi um cinema vazio. De fato, o local estava vazio, na sala de filme não tinha nem vinte pessoas, escolhi uma fila pequena de seis lugares se não me engano, sentei-me na ponta direita. E as pessoas foram entrando, estava colocando a minha agenda em dia, de repente um casal de meia-idade, a mulher me pediu licença para passar, era um casal bem vestido, ele estava de terno, e ela vestida de forma bastante discreta. Provavelmente eles saíram do trabalho e resolveram curtir um momento romântico, nesse cerrado deserto não há muita opção nem escolha. Eles se sentaram exatamente do meu lado, lado esquerdo, não acreditei, pois tenho toque, é o único, não suporto pessoas ao meu lado esquerdo. Tenho pânico disso. Definitivamente fiquei incomodada, não sabia se permanecia no meu lugar ou se mudava de lugar, achei que seria desagradável me mudar de lugar, pois seria talvez falta de educação, não tem nada a ver pensar assim, é neura minha. A luz da sala apagou, o filme ia começar, eu continuei ali, sem saber o que fazer, o que seria melhor. Enquanto isso o filme rolando e eu me enrolando ali de agonia, e foi assim até o fim do filme, eu estava estática, estava literalmente incapacitada para qualquer mobilização.

Achei o filme muito Almodóvar, lembrei-me que a última vez que vi um filme foi nesse local também e o filme por acaso era do Almodóvar, tive um dejavur nessa hora. Achei " As ervas daninhas" cult e delirante demais para mim, assim como eu tava ali naquele banco me torturando a vencer o meu toque.

Quando o filme acabou, senti-me aliviada, estava apertada para fazer xixi e finalmente tive um motivo para sair daquele lugar.

O caminho para casa fiquei me perguntando qual era a relação das ervas daninhas com as personagens e todo enredo do filme. Mas achei que as ervas daninhas estavam muito mais próximas de mim. É isso, a minha vida está cheio de ervas daninhas, seres pertubadores me tirando a sério, me cansando dia pós dia, me tirando toda energia do viver, preciso de um jardineiro ou talvez eu posso mudar de profissão e ser a jardineira da minha vida.

As ervas daninhas são muito danadas.

Giulia Mutz
Enviado por Giulia Mutz em 28/01/2010
Reeditado em 02/02/2010
Código do texto: T2055275