Que susto!

Outro dia não contei a história direitinho. Quando levamos mamãe ao cais, a saída do navio que estava prevista para as três ou quatro horas da tarde foi alterada para bem mais tarde. Por isso papai achou melhor encerrarmos as despedidas e voltarmos pra casa. Dona Laura embarcou e nós seguimos pela estrada afora.

O primeiro jantar sem ‘ela’ nem foi muito diferente, pois estávamos todos ainda animados com as novidades, cada um contando suas impressões sobre o porto, as pessoas, o movimento e aquela agitação toda. Depois, cansados, nos recolhemos. A mocinha da casa aqui supervisionou a escovação de dentes e a ida pra cama dos menorzinhos. Geraldo, o caçula, dormia no meu quarto e logo desmaiou. Eu ainda fiquei um tempinho no escuro pensando como teria sido bom se pudesse ter subido naquele navio também... Bem que mamãe pensou nesta possibilidade, mas havia o colégio, não ia dar naquela hora. Ela ia ficar três meses estudando na Alemanha. E papai logo cortou nossas asinhas, onde arranjaria dinheiro para tanto? Acabei pegando no sono profundo e não vi nem ouvi mais nada. Só vim a saber do ocorrido na manhã seguinte.

Foi assim: de madrugada Geraldinho acordou e foi para o quarto de mamãe. Sorrateiro, esgueirou-se pela cama e levou um baita susto, mas não gritou nem chorou. Encolheu-se todo pro lado de papai e perguntou baixinho, espantadíssimo: ‘quem é’ essa mulher que está aí?...

Pois é... havia uma mulher na cama!... Dormindo ali com papai!

Foi preciso acender a luz para que ele acreditasse. Dona Laura, em carne e osso!

Logo mais, na hora do café, todos nós levamos o mesmo susto.

Toda lampeira, ela contou que a partida tinha sido adiada para mais umas não sei quantas mil horas. Sendo assim, por que não aproveitar mais um pouquinho do aconchego familiar?...

Nesse dia não deu para voltarmos a Santos, fomos todos para a escola e papai se encarregou de deixá-la na Rodoviária...