INOCENTE E TRISTE
Tardinha, enquanto tomava uma fresca, pois o calor está insuportável nesta época do ano, fique a olhar os passantes. Figuras humanas das mais variadas, em todos aspectos, sejam físicos ou sócioeconômicos. Já estava ficando chato o meu passatempo, quando surge uma menina carregando outra. Ela devia ter uns quinze ou dezesseis anos, não mais que isso. Carregava outra criança de mais ou menos um ano de existência. Nossos olhos se cruzaram, pois ela percebera que eu a estava olhando. Seu olhar era inexpressivo. Possuía uma passividade mórbida. Havia dor e muita tristeza naquele olhar. Puxa, ela é apenas uma criança! Como poderia estar tão desiludida da vida? Havia desilusão em seu olhar. Seu corpo magro denotava a sua tragédia pessoal. O bebê, de cara suja, tinha a expressão de seu desalento. Mundo cruel esse nosso, pensei. Aquela jovem, tragada pelas circunstâncias da vida, ao invés de estar na escola, carregava, rua acima, rua abaixo a sua dor e, quem sabe, a causa dela. Arrependi-me do meu ócio. Ainda refletia sobre o que acabara de ver e lembrei-me do texto que postei aqui: "A vida passa enquanto não está olhando". Pura verdade. A vida se descortina diante de nós todos os dias. Cabe a cada um de nós o papel principal nesse roteiro. E aquela jovem mãe, afinal de contas, estava desempenhando o seu, muito embora fosse protagonista de um drama tão comum nas ruas de nossa cidade.