O sentido da vida


 


                  Toda a humanidade, desde sempre, nasceu, viveu e morreu. É o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues.
                   Mas o que muita gente não sabe é que a humanidade sempre viveu em apuros. Nunca houve paz na terra.Além do mais, para piorar,no nosso tempo, o século XXI, começaram a nos informar que quase tudo que aprendemos está errado. Que vivemos num planeta selvagem e que a natureza não é perfeita como foi dito na escola. Que ela é, em muitos sentidos, maravilhosa, não resta dúvida. Como ninguém soube até hoje responder o que é a vida, esse grande mistério insondável torna-se maravilhoso. Vida maravilhosa, mas imperfeita.
                    E o sentido da vida? Você sabe? Nem eu. Mas espere, essa resposta agora ficou fácil, segundo os biólogos, depois da descoberta do DNA. O sentido da vida para a natureza é a procriação das espécies, só isso! E tome propagação há bilhões de anos. E o homem? (incluído aí a mulher, senão vão me chamar de machista). Bem, o pobre homem, espremido entre duas grandes eternidades, o passado e o futuro, tem que se virar como pode.                     Cada um de nós é obrigado a inventar uma finalidade para a sua curta vida.Dizem que essa busca de sentido é que fez nascer o nosso amor pela cultura: teatro, música, literatura, cinema e inúmeras outras formas de arte.
                     Mas parece que só nos realizamos plenamente se nos deixarmos arrebatar pelo nosso objetivo. Para ficar com dois exemplos musicais: Pizinguim (menino bom em africano), como era chamado Pixinguinha por sua avó que veio da África, deixou-se arrebatar pela música e praticamente recriou o famoso chorinho brasileiro. Braguinha, que morreu outro dia aos 99 anos de idade, arrebatou-se pela marchinha carnavalesca, autor de mais de 500 marchas, entre elas, Copacabana, princesinha do mar. Eis um trecho: “Copacabana o mar eterno cantor/ ao te beijar ficou perdido de amor/ E hoje vivo a murmurar/ Só a ti Copacabana/ eu hei de amar”.
                    Então, diria você que me está lendo, o negócio é se deixar arrebatar por uma idéia? É, diria eu, mas CUIDADO com as idéias de jerico, aquelas que não levam a lugar nenhum. E, tem mais, as boas idéias têm que ter uma boa pitada de ética, que só aprendemos na pauleira da vida cotidiana. As ideologias são perigosíssimas, as idéias de salvar alguém, idem. A história, sempre voltada para o passado, está aí para nos mostrar o que foram as Cruzadas, a “Santa Inquisição”, os fundamentalistas de todos os gêneros. Matança, matança e matança! Hitler matou 30 milhões de pessoas, Stalin, 50 milhões, Mao, cerca de 70 milhões de chineses.
                      Entre salvar a humanidade e colecionar selos, conchas de praia, ou qualquer outra coisa, prefira colecionar. Melhor, ainda, se dedique a um trabalho honesto. Pronto, dirá você, mais um moralista sacripanta(dicionário à mão, por favor) a dizer o que tenho que fazer. Não, mil vezes não!!! O que quero dizer é que em um mundo só de trapaceiros a vida torna-se insuportável de viver, o que parece já estar acontecendo nos dias de hoje.
                      Como esta crônica já está ficando meio séria, e sem ousar entrar na explicação religiosa do sentido da vida, não resisto à tentação de contar dois fatos engraçados e que se relacionam com este texto. A primeira é aquela conhecida dos bons escoteiros. Como se sabe, o escoteiro é obrigado a praticar uma boa ação todos os dias. Numa tarde, três escoteiros foram ao Escoteiro-Chefe e disseram que haviam praticado juntos uma boa ação. Tinham ajudado uma velhinha a atravessar a rua. O Escoteiro-Chefe, admirado, perguntou porque os três ao mesmo tempo, bastava um para atravessar a rua com a velhinha. Foi quando os três escoteiros responderam: “Mas ela não queria atravessar a rua...
                      A outra diz respeito à comunicação entre os humanos. Roberto Lent, grande neurocientista, contou que fez uma palestra científica sobre o cérebro para meninos na faixa de 10 anos, em uma escola muito pobre. Decidiu falar sobre o sistema nervoso e achou por bem não usar a palavra neurônios e sim célula nervosa, para que os garotos entendessem melhor sua palestra.
                     Assim, passou o tempo todo falando em célula nervosa pra lá, célula nervosa pra cá e já iaterminando feliz sua palestra, certo de ter transmitido muito bem sua difícil mensagem às pequenas crianças, quando, de repente, um menino levantou o braço e perguntou: “Professor, existe célula calma?
                     Um ótimo ARREBATAMENTO para todos.