A POESIA E O POETA
A poesia existe antes do poeta. É ela o belo dos filósofos, anda à busca de sentimentos, da sensibilidade humana que a traduzem em música, pinturas, esculturas, imagens, artes cênicas, enfim, em palavras e versos. É a “poésis” bruxuleante, desejando intensamente sair à luz das sombras da caverna platônica. Porém, como independência existencial, a poesia existe antes e depois do poeta. Por isso, mesmo que o poeta morra, ela continuará a existir.
Espontânea, mas nunca o é gratuitamente. Tomando uma analogia aristotélica-tomista a respeito da conceituação, a poesia se manifesta ao intelecto como se preenchesse um recipiente. Nenhuma gota fora da forma, da capacidade e da subjetividade de cada um. É como esta crônica que está sendo apreendida conforme o recipiente de cada leitor. Nesse sentido, aparecem críticos, alguns escritores, que exigem serem nossos recipientes iguais aos seus, como condição de sermos poetas. Como essa exigência é uma aberração epistemológica, afirmo: todos podemos ser poetas, relativamente, todos somos poetas, sem ferir a “poésis”, que navega nos mares do belo e voa nos ares da liberdade. Basta à poesia vir ao nosso encontro, penetrar nosso ser e, em nós, encontrar palavras para anunciá-la. Vi em Sousa o repentista Zé Paulino, simples, com essência de povo, disputando versos consigo mesmo. A quem compará-lo? Era o cordel vestindo linho, sem desprezar o casaco de couro, riscado pelos gravetos da mata seca, paramento ritualístico da melodia plangente e melancólica do canto do aboio.
A poesia se veste de Musa, furtiva como as belas mulheres. Mostra-se, aos poucos, sensual, em forma de mote, suscitando inspiração, criatividade, até se tornar assunto. Se dissimulada ou arredia como a mulher que se nega, a poesia proporciona sofrimentos, escondendo-se do poeta. O poeta olha a pedra e, diferentemente de Drummond, vê apenas pedra. Esta fuga ou contágio tresmalhado cativa o poeta e o compromete ainda mais. Assim como o ferro é calor ao participar do fogo, o escritor, não importa em que intensidade, torna-se poeta ao participar da poesia.
(Aos poetas José Nêumanne, Célia Carvalho, Hildeberto Barbosa, Astênio Fernandes, Oliveira de Panelas e Sérgio de Castro Pinto)
A poesia existe antes do poeta. É ela o belo dos filósofos, anda à busca de sentimentos, da sensibilidade humana que a traduzem em música, pinturas, esculturas, imagens, artes cênicas, enfim, em palavras e versos. É a “poésis” bruxuleante, desejando intensamente sair à luz das sombras da caverna platônica. Porém, como independência existencial, a poesia existe antes e depois do poeta. Por isso, mesmo que o poeta morra, ela continuará a existir.
Espontânea, mas nunca o é gratuitamente. Tomando uma analogia aristotélica-tomista a respeito da conceituação, a poesia se manifesta ao intelecto como se preenchesse um recipiente. Nenhuma gota fora da forma, da capacidade e da subjetividade de cada um. É como esta crônica que está sendo apreendida conforme o recipiente de cada leitor. Nesse sentido, aparecem críticos, alguns escritores, que exigem serem nossos recipientes iguais aos seus, como condição de sermos poetas. Como essa exigência é uma aberração epistemológica, afirmo: todos podemos ser poetas, relativamente, todos somos poetas, sem ferir a “poésis”, que navega nos mares do belo e voa nos ares da liberdade. Basta à poesia vir ao nosso encontro, penetrar nosso ser e, em nós, encontrar palavras para anunciá-la. Vi em Sousa o repentista Zé Paulino, simples, com essência de povo, disputando versos consigo mesmo. A quem compará-lo? Era o cordel vestindo linho, sem desprezar o casaco de couro, riscado pelos gravetos da mata seca, paramento ritualístico da melodia plangente e melancólica do canto do aboio.
A poesia se veste de Musa, furtiva como as belas mulheres. Mostra-se, aos poucos, sensual, em forma de mote, suscitando inspiração, criatividade, até se tornar assunto. Se dissimulada ou arredia como a mulher que se nega, a poesia proporciona sofrimentos, escondendo-se do poeta. O poeta olha a pedra e, diferentemente de Drummond, vê apenas pedra. Esta fuga ou contágio tresmalhado cativa o poeta e o compromete ainda mais. Assim como o ferro é calor ao participar do fogo, o escritor, não importa em que intensidade, torna-se poeta ao participar da poesia.
(Aos poetas José Nêumanne, Célia Carvalho, Hildeberto Barbosa, Astênio Fernandes, Oliveira de Panelas e Sérgio de Castro Pinto)