Ocos...

Na tarde do dia 20 de dezembro, ao acessar os veículos de comunicação, surpreendi-me com a morte da atriz norte-americana Brittany Murphy, a qual foi encontrada desfalecida em seu banheiro após sofrer uma parada cardíaca gerada, aparentemente, por uso excessivo de medicamentos. Analisando a repercussão do fato na Internet, percebi que quando tamanha atrocidade acontece a um ícone de nossa cultura, uma máscara formada por cirurgias plásticas e maquiagens exageradas cai, e fica exposta uma expressão triste e depressiva; eis o verdadeiro rosto do “sonho americano”.

Brittany pode ser considerada um forte exemplo deste paradoxo existente entre a aparência e a vida real de algumas pessoas. A jovem, de apenas 32 anos, tinha tudo: beleza, saúde, juventude, talento, dinheiro, fama... elementos que a caracterizavam como uma mulher de extremo sucesso dentro de nossa sociedade capitalista. Seu fim trágico demonstrou que esta vida de boneca não era tão perfeita quanto aparentava. O uso contínuo de remédios indica que a atriz pode ter chegado à constatação, à qual também chegam muitos artistas e personalidades famosos após algum tempo de estrelato, de que os ideais atrás dos quais passou a vida correndo não passaram de farsas. Sua curta trajetória de vida nos mostra que a imagem exterior é inútil, quando não nos sentimos interiormente realizados; o sucesso é inútil, se não nos sentimos felizes; o dinheiro é inútil, se não temos amor.

Esta consciência da necessidade de equilíbrio entre o interno e o externo, a qual os povos orientais parecem ter descoberto há algum tempo, além de não ter sido despertada nos países ocidentais, ainda nota-se uma caminhada no sentido inverso. A tendência à valorização da beleza estética e, especialmente, da riqueza material é crescente, e prova disso pode ser encontrada nos currículos escolares de nosso próprio país: a arte e a religião, dois alimentos possíveis para o espírito, são postos de lado um pouco mais a cada ano, em contraste com o acréscimo das ciências exatas, consideradas prioridades no ensino. O preço, nossas crianças pagarão mais tarde, ao sentir uma inexplicável e recorrente depressão, mesmo quando sentadas em belíssimos escritórios de luxo.

Estes argumentos provam que Brittany Murphy, a linda e jovem atriz, foi um caso extremado desta absurda tentativa de “mecanização” do Ser Humano, que atinge não apenas as celebridades, como todos nós. Esta menina descobriu, da pior forma possível, a resposta para uma das perguntas mais inquietantes e discutidas em nossa sociedade. Não, dinheiro não traz felicidade. Para atingi-la, ao contrário, são necessários valores que as mãos ambiciosas não podem tocar, e a influência dos grandes artistas não pode obter.

Felipe Bilharva
Enviado por Felipe Bilharva em 26/01/2010
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