Despedida no cais - BVIW

Nossa... isso é do tempo do onça! Quando se usava o navio não para fazer um Cruzeiro, mas como meio de transporte. Levava uns treze dias para se chegar a Lisboa, parando na Ilha da Madeira. Depois que o avião se popularizou e a pressa se instalou, tudo mudou.

Todo mundo ia acompanhar o viajante. A família se apertava no carro que ziguezagueava pelas curvas da estrada de Santos cheia de neblina. Foi assim quando mamãe embarcou. Não tínhamos bem a noção de como seria aquela temporada sem ela, o que nos agitava e alegrava era a novidade. Só papai parecia nervoso. Ele sabia o que o esperava. Fora o caçula que ficaria com nossa tia, teria que dar conta de quatro adolescentes em casa...

Quando chegamos ao cais, que balbúrdia! Gente a mais não poder, malas, canastras, guindastes... mal dava pra passar. Lá em cima, na amurada, pessoas acenavam, gritavam gesticulavam... Cá em baixo, outras faziam o mesmo. E quem subia a escada não dava dois passos sem olhar para trás.

Ah! As despedidas... Abraços e beijos demorados, lágrimas dos namorados, tristeza, alegria, tudo misturado. Corações apertados.

Toca lancinante o apito, o navio se movimenta e lentamente vai deixando o cais...