"TUDO QUE ESCREVI É PALHA."

São Tomás de Aquino escreveu milhares de páginas de uma claridade soberana considerando-as “palhas”. Palha é o mesmo que pó, pois a palha pó se faz.

O venerável gênio aquiniano, como conhecida a exuberância de sua inteligência, através da escolástica deu novos rumos à igreja medieval, oxigenou-a.

E o mestre que explicou pelas famosas “cinco vias a existência do “Primeiro Motor”, da Primeira Energia que iniciou o movimento pelo processo da causalidade, causa e efeito, disse se recolhendo após ao silêncio:

“TUDO QUE ESCREVI É PALHA”.

Nada mais escreveu, deixando inacabada a incomparável “Suma Teológica”.

O que teria motivado essa conduta? Quais espaços lhe foram mostrados para cerrar sua genialidade? Como compreeender o silêncio de quem, fundado em Aristóteles, deu movimento ao Deus imóvel de Platão, mostrando-o “sem forma”, mas presente no fenômeno da causalidade?

De que forma aceitar que o revolucionário sistema escolástico ficasse mudo, sem nenhuma explicação de seu construtor pelo silêncio em seguimento exercido, após proferir essa insondável máxima, ser palha, pó, um monumento da humanidade por todos respeitado?

“Tudo que escrevi é palha”, ou seja, é nada, pó, sem nenhuma expressão, simbolismo ou riqueza dialética e dogmática.

Se apequenou a vastidão interrogativa-explicativa de sua imensa obra diante de qual visão? Todos se perguntam, qual a razão pela qual ele lacrou de silêncio o segredo inatingível. Por quê?

Se a visão era explicativa-formal, material e palpável porque visível, qual a razão de não compartilhar? Lhe foi pedido? Ou ao revelado se retira o dom de publicar a revelação, se determinando a sonegação da publicidade?

Mas se a Virgem Maria apareceu em várias ocasiões e o mundo e as gentes souberam, porque suprimir São Tomás uma possível revelação?

Responde-se que os que tiveram a visão da Virgem também tiveram a missão de anunciá-la, inclusive o encargo de ser cunhada a medallha milagrosa da Virgem das Graças na aparição à Santa do Silêncio, Catarina Labouré.

A ninguém foi dado ver o “Reino dos Céus”. Por ele teria se calado São Tomás, temeroso de não habitá-lo pelo pecado da inconfidência?

Sombras, sempre sombras que aumentam a estrada da busca, pois quem não busca esmorece e negligencia.

É a vontade do Pai que colocou a marca indelével em Caim, para ser errante no mundo com suas descendências a buscar o Pai desobedecido no caminho do bem ensinado. Era o lacre marcado pela inveja fratricida.

Sinais eventuais revelados do maior instrumento de fé, a Virgem Maria, irrecusáveis presenças materializadas, se espalham em Lourdes, Rue de Bac em Paris, Fátima e tantos outros lugares santos, onde a Mãe de todos mostra a vontade do Pai, Filho, e do Espírito Santo.

Os que puderam estar como São Tomás, ainda vivos, na presença das respostas, se calaram por nada mais interessar.

De um gigante da fé restou o silêncio e o hiato da imensa obra que somou a certeza da procura.

Perseverar é a chama permanentemente acesa, para que não sejamos nem palha, nem pó ainda vivos.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 26/01/2010
Reeditado em 25/10/2017
Código do texto: T2052252
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