(Perigoso) Namoro contemporâneo e 5 questões
((AVISO DESDE JÁ QUE ESTA CRÔNICA OFERECE PERIGO AOS MUROS CONSTRUÍDOS PELA CULTURA CONTEMPORÂNEA EM TORNO DO INDIVÍDUO. FALO POR EXPERIÊNCIA JÁ FEITA DURANTE OS DIAS QUE O TEXTO ESTÁ NO AR, SE VOCÊ NÃO QUER SE CHATEAR COM ALGUMAS QUESTÕES, FECHE O TEXTO DESDE A PALAVRA "JÁ":
_ JÁ!))
O namoro como o é na maioria das vezes anda me causando pensamentos melancólicos e fúnebres a seu respeito. Tornou-se uma palavra pesada da forma que é vivido e encarado. Não sei se estou na fase de achar quase tudo tradicional chato, ou se quase tudo é chato realmente, mas por hora, pra mim o namoro é, enumerei cinco questões explicativas:
1- Começa-se sabendo que vai acabar, pois marcar data de início é saber que vai passar pelo meio e chegar ao fim. Começo só existe se houver final. Portanto, comemorar o aniversário de namoro é como festejar a proeza de ainda, ainda estar ao lado da tal pessoa e saber que mais um ano difícil foi menos um a agüentar.
2- Somos seres biologicamente poligâmicos e historicamente forçamos a monogamia. Esta me soa como uma tentativa de nós, reles animais cheios de tesão e dedões, tentar nos separar da natureza usando tal artifício cultural, pra dizer que somos civilizados e melhores que os cachorros, beija-flor e polvo por exemplo. Lembrando que cultura é heterogenia e mutante.
3- Ciúmes, quando existe e ainda há briga, o ciumento mostra a força que faz para ser amado, além de todos os artifícios como presentes, inovações sexuais, telefonemas regrados, decorar datas, agradar sogras e, dividir a bala chita e a paçoca (estas e outras se for beijando não há incomodo, certo?). Ter ciúmes é ferramenta para reprimir e se sentir o único desejado pelo companheiro, mesmo que no fundo saiba da hipocrisia rolando.
Também é do *causador de ciúmes, a força pra agradar e enganar, iludindo a outra pessoa que ela é a única desejada sexualmente por ele*:
_ Ô amor, você é a única pessoa que me atrai e blablabláááá...
4- Namoro leva ao casamento, o que pode ser ainda mais grave, pois no imediatismo que vivemos, o amor não tem tempo de nascer. Prematuro, ele agoniza entre equipamentos respiratórios que, se desligados, morre em divórcio na incubadora. Algumas vezes nem enterram e acaba fedendo. Vai dar cheiro na família inteira, vizinhos e jornal diário de R$0,25.
5- Amar com pé atrás me deixa confuso, é algo a se pensar melhor, pois se o amor é um Deus, porque o pé atrás? Porque as testemunhas e o papel assinado no civil? Talvez porque aquela pessoa torna-se outra amanhã e outra depois de amanhã. Talvez porque não seja amor, já que apesar da pessoa mudar, ela ainda é a mesma e agora já não cabe nos sonhos ou não complementa, nem inventa ou inova. Ou os sonhos ficaram grandes demais pra ela, já que uma pessoa, apesar de infinita, fica pequena se banalizada. Será que seria só paixão? Será que seria “só”? Pois paixão não me parece pouco, mas é papo pra outra hora...
Deixei cinco motivos para não namorar, não me levem a mal, não estou dizendo que sou contra relacionamentos, nem a dois, mas essa palavra: “namoro”, está tão manchada e fatigada que acredito não ser escrita mais nas minhas páginas daqui pra frente, pensar no namoro como única forma legal e gostosa de relacionar-se a dois é além da burrice, é usar viseira de burro. Se não existe outra forma, pode-se ser o próprio Deus e criar uma ou várias alternativas fodas.
O autor do meu livro talvez me surpreenda me tornando chato ao ponto de namorar novamente, este é um recado pra ele que me ensinou tanto, espero que não me faça uma dessas!