o Marrom e o laranja

- Sabes que isso é um caminho sem volta,né? -Me alertou um grande amigo

- E quando não foi?

Viajei tanto por mares tão traiçoeiros e vi tantas vezes o paraíso sozinho que agora me deparo nessa praia de águas geladas e de cores tão dançantes. Me pergunto se foi obra do destino me colocar aqui, nesse meu barco que tanto penou e que tanto foi privilegiado. Logo aqui!

e de cima de um monte, antes de atracar, vejo uma menina, tão linda e distante que talvez já tenha a visto em meus sonhos. Não, ela estava sim!

Ela não me ve: o sol está contra ela e tudo que ela quer ver são as sulhuetas de uma cidade que se acorda para a noite. O barco pára sem chegar ao pier e a vejo.Esqueço de amarrara a âncora que tem que ser jogada e me deixo ficar ali, nas ondas, olhando para ela enquanto ela busca um melhor angulo para eternizar esse por-do-sol. Não consigo ver como está vestida, mas ela está leve e se esquecendo do vento que a acaricia.

Me sento na proa: ela ainda não me vê ( na verdade, não quero que ela me veja; ela busca o pôr-do-sol, não um marinheiro desconhecido)

" será que sairei na foto?" penso. Acho que não, e,se sair, serei apenas uma silhueta." normal" penso , mas me sentiria orgulhoso por ser levado por ela, nem que fosse numa simples silhueta de alguém que sonha sentado.

Continuo sentado na proa:meu corpo acompanha o balançar das ondas. Agora ela se move! inclina suavemente a cabeça pra ver se a foto ficou de seu agrado. Ela gira pro lado e bate mais outra. " nessa foto não sairei" penso e me ponho agora mais triste, mas tenho a esperança de ter saído na primeira foto.

Me encolho sentado na proa:Acho que ela está satisfeita. Alguém a chama "de quem será essa voz que a mantém tão perto de si quando deseja?" penso e sinto inveja de tamanho privilégio, ela gira para trás e fala algo que não posso escutar.Guarda a máquina e se afasta da praia apressada fazendo, aos poucos, o quase escuro marrom do pier com o vivo ruivo de seus cabelos...

Me levanto, giro o barco e volto para o mar. Ela fotografava o pôr-do-sol e eu a guardava para mim.

Balthazar Sete sóis
Enviado por Balthazar Sete sóis em 26/01/2010
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