A LOUCURA
Certa vez eu estava num ponto de ônibus, quando olhando para o lado observei um senhor falando sozinho. Fiquei muito espantado. Pensei: - Ora, porque aquele homem está falando sozinho? Coitado, parece um sofredor, para falar sozinho tem que estar com muita dificuldade. Ele olhava para mim com olhar de espanto, outras vezes ria. Eu pensava: - Coitado, porque será que ele está assim? Então resolvi perguntar: - Quer alguma coisa senhor? - Porque o senhor está falando sozinho, olha pra mim e ri?
- Ora meu filho, sou mais velho do que você, mas sou considerado louco porque falo sozinho, mas o que é a loucura? - É o falar sozinho?
- Eu vim para rua de sapato trocado, cada um com um pé diferente. Com uma calça vermelha e uma camisa marrom. Sou louco mas o senhor não foge a regra.
- A loucura é o ser certinho? Ou ter uma máscara para agradar aos outros sem agradar a mim?
- Ah! Isto é que é loucura. O negócio é sermos nós mesmos, não o que os outros queiram que nós sejamos.
- Eu não falo sozinho, porque aquilo que penso é realidade, se eu pensar agora num sorvete, ele já existe, converso como meu amigo Hildebrando, ele existe, você é que não vê.
- Aí, o problema é seu, não meu. Será louco aquele que fala sozinho ou com amigos do plano mental? Ou aquele que mata sem necessidade aos irmãos, e tira a vida de um pai de família?
- Então, para que ficar são e tirar a vida das pessoas? Prefiro a minha loucura pacífica e honesta. Eu e meu amigo não acreditamos em ninguém, ele só me manda dizer coisas boas. Então, quem é o louco ou o que é a loucura?
Olhei para mim mesmo e reparei que realmente sai com um sapato no pé trocado, como ele disse, a calça de uma cor e a camisa de outra e fiquei meio sem graça. É, eu sai correndo para o trabalho e pus tudo trocado. É meu amigo, isto é a loucura do dia a dia. Eu sorri. Aonde está a loucura e a sanidade? Aonde principia e acaba a loucura?