CADÊ O JORGE?
Esta Crônica foi escrita por um grande amigo, Dr. Antônio de Pádua Pacheco, Médico, e foi publicada no dia 25 de fevereiro de 1996, no Jornal da Cidade (Jundiaí/SP), que relata uma passagem engraçada no carnaval daquele ano, envolvendo a pessoa deste poeta. Preparem-se para bons risos.
CADÊ O JORGE?
Na noite seguinte à da coroação da Rainha do Carnaval encontro por acaso o Jorge lá no Gato Que Rii, no Eloy Chaves(bairro de Jundiai):
___ Jorge, perguntei, onde é que você se enfiou ontem à noite depois da coroação? Te anunciaram aos quatro cantos, cara...
Ele respondeu sereno como sempre:
___ Você pensa que é sopa ser jurado até aquelas horas?
Acreditem se quiser: Foi sopa! Foi uma tal sopa a responsável pela furtiva subtração do homem da mesa de jurados, naquela madrugada de sexta-feira. Pensei comigo: "bem-vinda sua Majestade a Irreverência, a grande Rainha do Carnaval" Que se anunciava através daquele carnavalesco de mais de duas décadas, operário do povo, marrom bombom, boina de Ghandi, bigode e sorriso largo que se combinam com o olhar dissimulado prá baixo, guindado por seu amor e militância à Presidencia da Lijunes (Liga Jundiaiense das Escolas de Samba). Irreverência, um misto de ingenuidade e matreirice, coisas dos Reis do Carnaval a quem reverenciamos com admiração.
Já recomendava o velho adágio popular para não se dizer "dessa sopa não bebo". Acabei então por compreeender o sumiço do Presidente quando no domingo de carnaval, honrado por seu convite, fui um dos trinta jurados do Desfile das Escolas de Samba, lá na Nove. Já conto.
Fizemos "concentração" na Casa da Cultura de onde partimos, sob chuva, numa perua. Tinha treze na Kombi e aquela era a terceira viagem (o Jorge foi na primeira, claro, banco da frente com o motorista, Presidente, coisa e tal...). Um dos treze da nossa "lotação" no melhor estilo carnavalesco já fez piada:
___ Ainda falta pegar o Rei Momo. Brincadeira, não cabia nem uma agulha. Uma Jurada, a Elizabete que já foi Rainha e Porta Bandeira passou mal (coitada) naquele aperto. Teve um tal formigamento no corpo, que acudiram prontamente apesar de não dar "prá se mexer na perua". Mas como "quem foi Rei..." E ainda buliram comigo.
___ Será que não tem médico aqui não? Incorporei o espírito de carnaval contra o espírito de porco:
___ Quem entende de formiga é veterinário... tamanduá...
Chegamos na Nove(Avenida do desfile de carnaval de Jundiai), o desfile estava atrasadíssimo, chovia. As cabinas (não é cabine não, olhei no dicionário) dos Jurados estavam perfiladas em três grupos de dez. Na primeira pixaram a giz do lado de fora "CECAP III". A minha cabina era, imaginem, a trigésima. Muito prá lá da casa do chapéu. Tão longe que o locutor encerrou o desfile antes mesmo que a Arco-Irís ((Escola de Samba de Jundiai) começasse a desfilar diante de nós. E um funcionário da Prefeitura logo bateu na porta:
___ Posso tirar a lâmpada?...
Mas voltando à Nove, chovia.Corremos pras cabinas, a minha tinha até posseiros, cheguei lá em sopa. quando me vi então com frio, com fome e em sopa, entendi o sumiço do Presidente na coroação da Rainha.
___ Cadê o Jorge? perguntei prá um fiscal.Não acharam. Felizmente que não. Pelo seguinte: naquela expectativa do para-não-para-a-chuva, do vai-não-vai-ter-desfile, todo mundo buscava quem? O Presidente, lógico. Que embora parecesse calmo, confessou-nos depois que "explodia". E naquela confusão toda, alguém ainda o solicitou urgente numa das cabinas. Lá foi o Jorge debaixo de chuva:
___ "Seu" Jorge, a lâmpada queimou. O Senhor manda trocar?
Mandou ô se mandou. Nem mandou. Por essa razão falei felizmente não o acharam. Imaginem vocês se logo depois dessa lâmpada ele vai até a trigésima cabina e eu lhe pergunto com ... irreverência:
___ Que horas vem o lanche, Jorge?
Ave Maria! Eu teria simplesmente encerrado, antes de começar, a minha carreira de Jurado.Enfim, essas peripécias todas foram motivo de pilhéria no final da madrugada, depois do desfile, lá no Moron, onde fomos literalmente tomar canja. Se tivesse mosca, àquela altura virava alegoria. Fizemos até uma marchinha "Cadê o Jorge?" pró Carnaval de 97. E decidiu-se também que as cabinas não precisarão de 45°. Sugestão de alguém que pegou o bonde andando:
___ Prá que 45°? Então bota logo 5l, uai! Cerveja que é cerveja já tem 6! Agora, uma coisa é certa: alegoria à parte de tudo aquilo que relatei aqui, Carnaval não acaba em samba, nem em pizza, e nem em sopa, simplesmente não acaba.
FIM
Gostaram?
Esta Crônica foi escrita por um grande amigo, Dr. Antônio de Pádua Pacheco, Médico, e foi publicada no dia 25 de fevereiro de 1996, no Jornal da Cidade (Jundiaí/SP), que relata uma passagem engraçada no carnaval daquele ano, envolvendo a pessoa deste poeta. Preparem-se para bons risos.
CADÊ O JORGE?
Na noite seguinte à da coroação da Rainha do Carnaval encontro por acaso o Jorge lá no Gato Que Rii, no Eloy Chaves(bairro de Jundiai):
___ Jorge, perguntei, onde é que você se enfiou ontem à noite depois da coroação? Te anunciaram aos quatro cantos, cara...
Ele respondeu sereno como sempre:
___ Você pensa que é sopa ser jurado até aquelas horas?
Acreditem se quiser: Foi sopa! Foi uma tal sopa a responsável pela furtiva subtração do homem da mesa de jurados, naquela madrugada de sexta-feira. Pensei comigo: "bem-vinda sua Majestade a Irreverência, a grande Rainha do Carnaval" Que se anunciava através daquele carnavalesco de mais de duas décadas, operário do povo, marrom bombom, boina de Ghandi, bigode e sorriso largo que se combinam com o olhar dissimulado prá baixo, guindado por seu amor e militância à Presidencia da Lijunes (Liga Jundiaiense das Escolas de Samba). Irreverência, um misto de ingenuidade e matreirice, coisas dos Reis do Carnaval a quem reverenciamos com admiração.
Já recomendava o velho adágio popular para não se dizer "dessa sopa não bebo". Acabei então por compreeender o sumiço do Presidente quando no domingo de carnaval, honrado por seu convite, fui um dos trinta jurados do Desfile das Escolas de Samba, lá na Nove. Já conto.
Fizemos "concentração" na Casa da Cultura de onde partimos, sob chuva, numa perua. Tinha treze na Kombi e aquela era a terceira viagem (o Jorge foi na primeira, claro, banco da frente com o motorista, Presidente, coisa e tal...). Um dos treze da nossa "lotação" no melhor estilo carnavalesco já fez piada:
___ Ainda falta pegar o Rei Momo. Brincadeira, não cabia nem uma agulha. Uma Jurada, a Elizabete que já foi Rainha e Porta Bandeira passou mal (coitada) naquele aperto. Teve um tal formigamento no corpo, que acudiram prontamente apesar de não dar "prá se mexer na perua". Mas como "quem foi Rei..." E ainda buliram comigo.
___ Será que não tem médico aqui não? Incorporei o espírito de carnaval contra o espírito de porco:
___ Quem entende de formiga é veterinário... tamanduá...
Chegamos na Nove(Avenida do desfile de carnaval de Jundiai), o desfile estava atrasadíssimo, chovia. As cabinas (não é cabine não, olhei no dicionário) dos Jurados estavam perfiladas em três grupos de dez. Na primeira pixaram a giz do lado de fora "CECAP III". A minha cabina era, imaginem, a trigésima. Muito prá lá da casa do chapéu. Tão longe que o locutor encerrou o desfile antes mesmo que a Arco-Irís ((Escola de Samba de Jundiai) começasse a desfilar diante de nós. E um funcionário da Prefeitura logo bateu na porta:
___ Posso tirar a lâmpada?...
Mas voltando à Nove, chovia.Corremos pras cabinas, a minha tinha até posseiros, cheguei lá em sopa. quando me vi então com frio, com fome e em sopa, entendi o sumiço do Presidente na coroação da Rainha.
___ Cadê o Jorge? perguntei prá um fiscal.Não acharam. Felizmente que não. Pelo seguinte: naquela expectativa do para-não-para-a-chuva, do vai-não-vai-ter-desfile, todo mundo buscava quem? O Presidente, lógico. Que embora parecesse calmo, confessou-nos depois que "explodia". E naquela confusão toda, alguém ainda o solicitou urgente numa das cabinas. Lá foi o Jorge debaixo de chuva:
___ "Seu" Jorge, a lâmpada queimou. O Senhor manda trocar?
Mandou ô se mandou. Nem mandou. Por essa razão falei felizmente não o acharam. Imaginem vocês se logo depois dessa lâmpada ele vai até a trigésima cabina e eu lhe pergunto com ... irreverência:
___ Que horas vem o lanche, Jorge?
Ave Maria! Eu teria simplesmente encerrado, antes de começar, a minha carreira de Jurado.Enfim, essas peripécias todas foram motivo de pilhéria no final da madrugada, depois do desfile, lá no Moron, onde fomos literalmente tomar canja. Se tivesse mosca, àquela altura virava alegoria. Fizemos até uma marchinha "Cadê o Jorge?" pró Carnaval de 97. E decidiu-se também que as cabinas não precisarão de 45°. Sugestão de alguém que pegou o bonde andando:
___ Prá que 45°? Então bota logo 5l, uai! Cerveja que é cerveja já tem 6! Agora, uma coisa é certa: alegoria à parte de tudo aquilo que relatei aqui, Carnaval não acaba em samba, nem em pizza, e nem em sopa, simplesmente não acaba.
FIM
Gostaram?