o Vendedor de ovos

Transformino vivia suspirando pelos cantos de seu salão, pois a vida mudara muito desde que havia conhecido Acavalaldo, irmão de uma de suas clientes, policial feminina. Feminina mesmo. Como o salão era um antro de informações, não custou saber a lenda sobre os predicados do rapaz.

Já tinha ido, inclusive, até a França. Não, a Caiena não, à França mesmo. Tentou várias vezes uma aproximação, através de sua amiga, mas o bofe era urtiga: tinha horror a bicha. Ou seja, sofria de bichofobia.

- Ah, mana, não sei mais o que eu faço! – reclamava, enquanto arrumava uma mecha da cunhada – Ele nem me nota: já liguei, já mandei e-mail, já escrevi... Mas nada!

- Ele tem namorada. Aliás, ele tem muitas... Não sei porque nenhuma fica com ele.

- Também, querida com um... Nome desses.

- Além do mais, ele é facão, só corta de um lado.

- Não existe esse negócio de facão. Ele é que não foi amolado da maneira certa. Além do mais, eu sou a bainha dele. Fala com ele, querida, por favor.

- Eu já falei, Mino, mas ele me disse que o negócio dele é mulher, ou seja: É pra mulher!

- Ai, não fala assim, senão eu tenho um troço!

- Pois é... Ele até me disse que te acha uma boa pessoa. Se pelo menos você fosse mulher...

Era isso, pensou. “Se fosse mulher”. Era entendido e esclarecido. Lia muito, sabia das possibilidades da ciência e da medicina. Haveria de ser mulher e cortar o p... Mal pela raiz. Afinal, sua cabeça era de fêmea, seu corpo era feminino, seus seios, suas coxas, seu bumbum... (ai, pára!). Bem, tudo estava perfeitamente dentro dos gostos de Acavalaldo, exceto por pequeno detalhe, um pequeno apêndice que insistia em atrofiar-lhe os planos amorosos e de uma vida feliz.

Iniciou sua pesquisa: Institutos, hospitais, médicos, especialistas.

- Ai, meu Deus! Como tudo está pela hora da morte. É um absurdo uma operação dessas por trinta mil paus. Ops!

Transformino estava à beira de um ataque de nervos, literalmente. Leu e compreendeu que a operação era delicada, poderia haver rejeição. Aliás, rejeição por aquele órgão, já havia desde que se conhecia por gente. Então, não poderia ser pior.

Pensou em vender o salão. Avaliou. Não daria nem pro éter, por assim dizer. Leu mais e descobriu a venda de órgãos pela internet. Isso. Era a saída. Logo criou o seu próprio anúncio:

“Órgão sexual masculino, sem uso, à venda. Satisfação garantida. Grátis bolsa escrotal como de fábrica. Preço da transação a combinar.”

Agora era só esperar a freguesia. Calculou quanto deveria pedir pelo futuro-ex-amigo, afinal era uma coisa íntima sua. Calculou que 10 mil dólares ajudaria bastante.

- Mana, logo logo tenho surpresas, nem te conto... - e contou. Garantiu que seria uma das mais belas mulheres que o mundo jamais vira. Alberta Close, sua ídola, iria pro chinelo.

Aí choveu. Choveu de e-mails com palavras do mais baixo calão: De “joga pros cachorros” até “enfia naquele lugar”. Uma baixaria geral. E-mails que não acabavam mais. Cliente mesmo, que é bom, neca. Lia, chorava e mandava para lixeira. De novo, e de novo e de novo. Mas eis que lá no finzinho algo lhe chamou a atenção.

-“Caro amigo, Mino – Mino? Só amigos íntimos o chamavam assim – tenho acompanhado sua luta por uma operação que satisfaça sua alma feminina. Minha irmã Risolete me contou que estás passando o maior drama para conseguir realizar essa operação. E como sinto uma grande afinidade por você, quero contar-lhe um segredo, que nem minha família sabe. Fica só entre nós duas: eu também sou operada, mana. Entretanto, ainda não tive coragem de assumir. Mas posso dar o endereço de um especialista, que tem cada precinho, ó! Beijos, amiga, Acavalaldo. Eguinha, para os íntimos!

E um pesadelo veio a cavalo. Que decepção. Seu pretenso tinha um talho e não um penduricalho.

- Que tal, Mino, como anda sua campanha? - perguntou Risolete.

-Cortei, digo, parei. Vou deixar um pouco como a natureza fez. Vou fazer igual à Bicha do Brega, doar meus órgãos para a ciência. Afinal, bicha não vira pó, vira purpurina.

In htt://oartecultor.blogspot.com/

V I S I T E