A Carteira.
- Os homem tão aí na estrada véi?
- Tão não, tá beleza pode ir!
- Valeu!
É nessa loteria das estradas e das irregularidades que o espirito aventureiro surge nas rotinas dos fugitivos das rondas policiais. Confiantes, cantando em pensamento “quem tem medo do lobo mal?” Passeiam diariamente pelas estradas à fora. Definitivamente não tem nada mais apavorador como uma blitz no meio do caminho, penso até que se Drummond fosse um irregular aventureiro apaixonado por motos como eu sou, provavelmente seu poema seria mais ou menos assim: No meio do caminho tinha uma blitz, tinha uma blitz no meio do caminho, tinha uma blitz[...]. Nunca me esquecerei desse acontecimento...
Realmente dificil esquecer desse ímpar acontecimento em um dos dias que antecediam as tradicionais festas de São João no interior da Bahia, mais precisamente na Br que faz ligação entre as cidades de Ibirataia – Ipiaú pela qual transito diariamente num vai e vem e vai ininterruptos rumo a universidade.
Pilotando uma moto honda biz preta ano 2008, levavamos alguns livros na bagagem e muitas irregularidades nas costas, digo levavamos pois dessa vez como de costume eu não estava no comando da situação, mas me arrisquei em deixar sentir o que ele (meu namorado) sempre desperta em mim quando está no comando, uma devastadora taquicardia! ou mais popularmente falando ele pilotando sempre me deixa com o coração na mão!
Dizem que toda paixão desvairada esconde uma manchete policial, e foi assim que de sandálias, capacetes irregulares e sem carteira de habilitação encontramos a alguns proibidos Km/h os fardados parando tudo, não sabiamos ao certo se com a intenção de fiscalizar as rodovias e patrulhar a serviço da segurança pública ou com a intenção de garantir as cevejas e o forró que se aproximava.
Ponto estratégico, não tinhamos mais como voltar, O que fazer? Antes mesmo de procurarmos uma desculpa para a situação que visivelmente nos acurralavam no canto da pista, o PRM (Policial Rodoviario Militar) já ambicionadamente carregava para a viatura a única coisa que me sobrava de regular, a documentação da moto.
- E a carteira? Onde está sua carteira? Quero ver a carteira!
A preocupação dele maior era a carteira... a carteira! Quase eu inflijo inconcientemente mais uma lei dizendo: - solta logo o dinheiro amor, que ele quer a carteira! Época de festa já sabe amor... O que importa é a carteira! Mas antes de dizer essa pérola ouvimos algumas afimações:
- Minha habilitaçao de moto é vinculada a de carro e eu esqueci na minha cidade, mas, eu sou sobrinho do coronel!
Como as coisas mudaram imediatamente, depois de muitas perguntas sobre o parentesco com o chefão e algumas respostas duvidosas, pelo sim ou pelo não, arriscamos o que tinhamos na mão e não na carteira.
-Sobrinho do coronel rapaz? Olha gente boa, vocês estão indo para a faculdade, estão indo estudar... Tem um adesivo ai na moto “100% jesus” vocês são da paz! Podem ir...
Livres... Libertos... Ilesos de gravissimas multas, de uma moto apreendida e de horas de constragimento. Mas saiba leitor que até eu acreditei nessa história de carteira conjunta! Mas e o parentesco? Ah... isso eu ainda usarei nos momentos de aflição:
- Olha eu sou namorada do sobrinho do coronel! Será que isso cola?
Não sei ao certo, mas enquanto não chegar minha CNH estarei percorrendo bandidamente pelas estradas desse Brasil, sem dinheiro no bolso mas com muita estoria na mala, afinal, mais valem amigos na praça do que a carteira na mão!