Desabafo...Ou...Ode À Cidade De São Paulo

É terça-feira, fim de tarde. Caminho pela mais paulista das avenidas. Tinha subido a rua Augusta vinda da Oscar Freire. Fresca na memória ainda estava o cenário de lojas bonitas e gente descolada.

Então o baque.

Na avenida Paulista me deparo com uma cena caótica. Paro e olho o que os olhos não querem ver; mas a cena está lá, aberta ao público, exposta na TV: Colocaram fogo embaixo do viaduto que liga a avenida Paulista à Rebouças e Dr. Arnaldo e alguns jovens, que deveriam estar na escola, mas que vivem pelas ruas, aproveitam o congestionamento provocado para fazer um arrastão.

As pessoas, incrédulas e impotentes, só observam. Alguns mais medrosos ou menos corajosos, sei lá, dão um jeito de sair dali rapidinho, procurando talvez um lugar mais

seguro para se abrigar.

Um policial se aproxima e os ‘de menor’ começam a gritar...”Vai morrer...Vai morrer!”. Impotente, ele se afasta.

Alguns carros da polícia passam...E não param.

Eu me sinto tonta, a cabeça gira, a garganta seca, o estômago pesa.

Querendo me defender e defender a cidade que amo, vasculho dentro da bolsa...e saco, sem hesitar, caneta e papel e então, uma rajada de palavras brota do meu desencanto: Que lugar é esse...?

A moça, bonita, altiva.

A pele, bem tratada, viçosa.

Os cabelos longos, sedosos.

Os dentes, bonitos, impecáveis.

O corpo, esguio, malhado.

A cidade....um caos!

As roupas, finas, elegantes.

O olhar, altivo, imponente.

O carro importado, blindado.

a casa, confortável, segura.

A cidade...um caos!

As árvores, poucas, apodrecendo

O lixo, acumulando.

No calor, seca, falta d’água.

Quando chove, enchentes.

Em cada farol...Crianças largadas.

Em cada esquina...Jovens desocupados.

Em cada viaduto...Famílias desabrigadas.

Em todo canto...Velhos abandonados

A cidade...Que lugar é esse?

Texto escrito para o concurso - Revista folha de São Paulo/ aniversário da cidade de São Paulo. Com certeza não é um texto apropriado para se comemorar o aniversário, mas eu, que amo esta cidade por acolher e dar a todos, igualmente, uma oportunidade, eu... só consegui fazer esse desabafo!