CHIFRUDO? EU?

Pois é! Como eu já desconfiava  há muito tempo, descobri. Cheguei à prova fatal, absoluta, incontestável... eu não sou o único. Dezesseis anos de vida conjugal, e eu ali, fiel e bobo. Agora, fico lembrando das noites em que ela alegava dores de cabeça mas se negava insistentemente em tomar qualquer tipo de analgésico.

_ Não, remédio não! Cura uma coisa mas provoca outra. Uma hora a dor passa!

Pedia desculpas pela indisposição, dizia que me amava e prometia que na próxima semana seria "muita boazinha comigo". Desejava  boa noite com um beijinho no rosto, virava pro canto e, em quinze  segundos, estava dormindo como se nem cabeça tivesse.

Na outra semana, adiava o "ser muito boazinha" de segunda para terça-feira, depois pra quarta, depois pra quinta e, na quinta, anunciava com aquela cara de "graças a Deus":

_ Meu amor, tenho uma péssima notícia para você.

_ Ah, sim? E qual é?

_ Minha menstruação chegou.

Eu não respondia nada. Apenas imaginava mais nove ou dez dias sem poder tocar no corpo dela.

_ Cê sabe cumé que fico nestes dias, né môzinho?

Às vezes eu perdia a paciência:

_ Quer saber? Acho que você está fingindo. Esta coisa já foi embora e você está me anganando...

_ Ah, é? Quer ver? O que tiver aqui você come?

Argumento idiota...  mas, fazer o quê? Fui levando a vida como sempre: uma vez por mês, e olhasse lá!  Às vezes me dava a sensação de que, enquanto eu me consumia em carícias para excitá-la, ( o que ela chama de "fuça-fuça") ela tentava memorizar a lista do supermercado. E tinha que ser bem rápido. Se eu demorasse mais de dez minutos, colocava em risco a agenda do mês seguinte;

_ Nosssssa, benzinho, essa valeu por três meses!

Comecei a desconfiar de que eu não estava sozinho e nem era o mais importante na nossa relação. Lembrei de uma vez que ela elogiou as pernas do filho da vizinha... Será? Na semana passada, tudo veio à tona.  Ela me ligou para contar toda chorosa que havia machucado a mão.

Deixei o serviço mais cedo e quando cheguei em casa, antes de entrar, ouvi vozes e agucei os ouvidos. Ela contava para a vizinha como se machucara, concluindo com voz sedutora:

_ Eu estou mais triste é porque isso vai me deixar um bom tempo sem ter contato com  o grande amor da minha vida.

Pensei no filho da puta da vizinha e na única arma que eu tinha em casa, um facão enferrujado para picar lenha. o sangue fervia em minha cabeça.

A vizinha fez o meu jogo e, toda ansiosa, perguntou:

_ Meu Deus, eu não sabia que você tinha uma "paixão secreta", que misterioso... mas você vai me contar quem é, ah, isso vai. Conta pra mim, quem é esta grande paixão de sua vida?

Minha mulher simulou uma voz confidencial e respondeu:

_ Sua boba, é o meu tricô!