A "`OMERTA". QUEM NÃO SILENCIA É SILENCIADO.

CÓDIGO DO SILÊNCIO."`OMERTA".

A "ÒMERTA", vocábulo italiano substantivo feminino que significa "a solidariedade dos delinquentes", é o lacre que fecha e blinda contra qualquer evidência grupos criminosos.

A única possibilidade de desnudar e expor todos componentes de um sistema criminoso é o rompimento da "Òmerta". Com a delação premiada no Brasil, tem ocorrido revelações.

Já aconteceu algumas vezes. A famosa instituição da "delação premiada" veio tentar a abertura desse lacre.

As instituições competentes deflagram seus mecanismos protecionistas. Quem é refém de organizações sistêmicas, a exemplo da Itália, da Máfia Italiana, observa a "Òmerta". Todo engenho criminoso observa o princípio da "Òmerta".

A quebra do código de silêncio", na Itália, tem violento desfecho; "quem não silencia é silenciado".

Nessas sociedades irmanadas no ilícito, como se dá com o tráfico e outros crimes de bando, todos continuam às expensas do esquema.

Veja-se o controle da circulação das drogas e da administração do negócio feitos do interior do cárcere no Brasil, pelos cabeças já segregados no sistema prisional.

Na Itália, a "`OMERTA" quebrada, deu ensejo à desarticulação da Máfia, com seu parcial esvaziamento na década de noventa. BUSCHETA, mafioso refugiado no Brasil, foi um dos que colaborou.

Após a "delação premiada", adotada no Brasil, fez várias cirurgias plásticas e, como um nômade, se escondeu nas esquinas do mundo, já o disse aqui de outra feita.

A Máfia é um Estado dentro de outro. Assim são as organizações criminosas em geral. Veja-se hoje o nominado PCC e outros, que queiramos ou não, controla os presídios de certa forma. É a falência do Estado como ente repressor de crimes.

Na Itália a Máfia matou destacadas autoridades, entre elas um general e inúmeros magistrados poderosos. GIOVANNI FALCONE e PAOLO BORSELLINO, verdadeiros mártires para o povo italiano, combateram-na sabendo que seriam assassinados.

Não arredaram de seus ideais. A Itália os reverencia sempre. Em Palermo, ainda hoje, os magistrados vivem reclusos; não têm vida social. Não podem se expor. Privam somente da amizade daqueles muito próximos.

Os policiais são os caçados, não os caçadores. Por vezes andam encapuçados para não serem identificados. Isto já acontece no Brasil, onde fardas são escondidas nos núcleos pobres onde residem policiais, que são também caçados.

Dois magistrados de Varas de Execuções Penais já foram mortos, inúmeras autoridades são ameaçadas. Tenho em meu círculo de amizades pessoas que só transitam com segurança, escolta. Uma delas, Juíza que comigo começou, queixou-se de não poder ir mesmo à manicure sem escolta. Preside o Tribunal do Júri em área de alto risco.

Para se ter uma idéia do que seja tal poder paralelo, na Itália por exemplo, no dia 11 de abril de 2006, foi preso nas montanhas de Corleone, na Sicília, BERNARDO PROVENZANO, de setenta e três anos, foragido datavam quarenta e três anos, condenado à revelia em dez sentenças com a pena de prisão perpétua por assassinatos, inclusive dos Juízes Falcone e Borsellino, em 1992.

Provenzano acumulou uma fortuna incalculável. Somente nos últimos dez anos, a polícia lhe confiscou seis bilhões de euros, ou seja, aproximadamente dezoito bilhões de reais em bens.

Era o lendário "FANTASMA DE CORLEONE"; não tinha rosto. Foi preso por Cortese, policial que lhe movia implacável caçada. Afirmava que sua maior dificuldade era a "`omerta".

Quando em frente ao "CAPO DI TUTTI CAPI", o chefe de todos os chefes, Cortese sentiu que era aquele rosto que procurava, datavam sete anos, tendo exclusivamente uma foto sua de 1963, atualizada por computador.

Provenzano, como situa Attilio Bolzoni, um especialista na Máfia, "era uma instituição; ele ficaria insultado se chamado de fugitivo, pois ficou livre por quarenta e três anos. Quem consegue se livrar por tanto tempo das barras da lei, não é um fugitivo. Ele era como um ministro de governo em Estado paralelo."

São assim os mafiosos em qualquer parte do mundo, poderosos. É fácil de constatar, infelizmente, por vezes e com amplitude estão em altos postos de mando.

Sou cidadão italiano, tenho dupla cidadania por força de ascendência, conheço razoavelmente a história da Itália.

A Máfia surgiu para o bem, remonta à conquista normanda com seu cortejo de injustiças do feudalismo contra o povo. Diante da opressão surgiu uma sociedade que se organizou para combater através de seus líderes corajosos a injustiça; A MUAFÂT.

O termo, árabe, vem de “mû” que significa coragem e “afât”, significando proteção. Mas a instituição se desvirtuou. Vale para muitas instituições e sociedades nossas. A notoriedade explica a afirmação.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 24/01/2010
Reeditado em 24/01/2010
Código do texto: T2047895
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