PROMESSA
Iany, apesar de ter nascido numa família católica, recebido todos os sacramentos, e, ter acompanhado sua avó materna aos eventos religiosos, desde tenra idade, pois era sua acompanhante predileta, não se sentia atraída por alguns dogmas adotados pela citada religião, embora sempre respeitasse quem os fizesse.
Quando ficou adulta e teve a liberdade de escolha, optou por outra religião. Quando surgia algo difícil, quase impossível, acreditava que se fosse permitido por Deus, com sua fé, alcançaria. Sempre gostara de fazer suas orações discretamente, primeiramente agradecendo pelas imensas bênçãos, que até certas vezes, não se achava merecedora; segundo louvando o divino Pai e encerrando com um pedido especial – que Ele continuasse em seu coração, e assim, o resto com certeza daria certo. Jamais fez algum pedido que implicasse em promessa ou algo semelhante, nem para si, ou para alguém.
Mas por ironia do destino, a certa altura de sua vida, Iany teve uma enfermidade séria, e sua sogra que era muito católica, silenciosamente, fez uma promessa a São Sebastião, cujo pagamento seria, se a Iany se curasse, enquanto vida tivesse, assistiria uma missa no dia 20 de janeiro. A Iany se curou. Promessa revelada e devida. Sua sogra lhe diz que no primeiro ano, além da missa, teria que estar totalmente vestida de vermelho e acompanhar a procissão. E assim, naquela primeira missa, estava Iany grávida de seu primeiro filho, vestida de vermelho – cor que não lhe agradava, e seguindo a procissão, por respeito à sogra e agradecida ao santo, por estar curada. Foi uma longa caminhada – com todo exagero - percorreram a metade do Bairro Alecrim em Natal, cujo santo é tido como padroeiro, onde morava sua sogra.
Daí por diante, a cada ano, procurava uma igreja católica, não importando o lugar, que houvesse qualquer celebração para prestar seu agradecimento ao santo, muito embora, achasse que a promessa já estivesse cumprida. Mas em seu íntimo pensava: “o que me custa, fora algumas horas de reflexão. Afinal de contas, continuo sã, graças a Deus”.
No último dia 20, Iany lembrou-se da promessa e como não é frequentadora católica, não sabia a programação da igreja; buscou uma celebração na igreja de seu bairro, mas não havia nenhuma naquele dia. Saiu apressadamente em busca de outra, encontrou-a de portas abertas; logo adentrou ao templo sagrado.
Mas para sua surpresa, quando entrou na porta lateral ao altar, deu de cara com uma “platéia totalmente masculina”. Sua surpresa não foi maior que a dos homens ali presentes. Todos a olharam e ela ficou sem chão. Encabulada, dirigiu-se a um banco mais distante do grupo e lá permaneceu por alguns minutos em oração.
Não era uma missa, mas haviam pessoas reunidas em nome de Deus, e, com certeza, Ele estava presente. Para ela, era o que importava. Vez por outra, adentrava mais um, e o olhar curioso se dirigia para ela. Só então, percebeu que estavam na celebração do Terço dos Homens. Já havia ouvido falar. Achou interessante. Mas sua presença estava desconfortável; sentia-se perturbando o ambiente. Agradeceu a São Sebastião pela graça alcançada e a Deus por suas constantes bênçãos; saiu discretamente...