Enquanto tem burro os ladino "véve"
Dia destes, sentada a beira-mar num descanso mais que merecido, fiquei filosofando sobre as marolas que massageavam meus pés.
Elas vinham mansamente, tocavam e mim e voltavam a juntar-se a imensidão das águas do mar.
Notei que com o passar do tempo meus pés foram enterrando-se na areia, minhas pernas já estavam desconfortável e obriguei-me a mudar de posição, não resolvendo o desconforto levantei-me e fui sentar-me em um tronco robusto mas desgastado por tantas turbulências vividas mar adentro e que depois de tantas tempestades e tombos sofridos ainda conserva-se ali, pronto para servir e seguir seu caminho.
Fiquei ali parada, filosofando sobre tudo o que conheço sobre ser fraco ou forte.
Você compra um lindo jarro de cristal, paga caríssimo, quando chega em sua casa a primeira coisa que comenta sobre a nova aquisição é:
- Toma cuidado! Pode quebrar “só de olhar”! É frágil!
E coloca o objeto em um local especial onde poderá ser muito admirado, mas pouco usado.
Agora você compra um jarro de plástico, plástico mesmo, daqueles reciclados, que já tem história, aliás, uma linda história, já serviu a muitos e ainda conserva-se ali em suas mãos para lhe servir e sabemos que após seu uso, será novamente transformado em algo útil. A este o preço é mínimo. Ninguém toma muito cuidado com o pobrezinho já que ele pode levar vários tombos e sobreviver apesar dos arranhões. Este será “escondido” em algum armário ou gaveta e ninguém sequer notará seus arranhões apenas notarão que ele ainda é útil.
Assim é o ser humano, não existe meio termo no quesito forte ou fraco, ou você é forte, ou você é fraco. Não falo aqui sobre força física, mas sim emocional. Você deve conhecer e também saber distinguir os fortes e fracos que vivem ao seu redor.
Vamos relatar aqui as principais “qualidades” do fraco:
- dormir (ele adora um sofá, de preferência a sua frente existe uma televisão e tem que ter um controle para ele não precisar levantar-se)
- fala calmamente (isso lhe dá a impressão de ter controle da situação)
- adora fazer visitas. (Aparece na sua casa sem avisar, traz consigo a família toda para passar um fim de semana)
- Pede sempre e descaradamente.
- Mora de favor (ou arruma um parceiro(a) que possa lhe dar um lar).
- tem cara de “coitadinho” ( vive com dor de cabeça, tem “chilique”, surta se for contrariado, diz que vai morrer, cometer suicídio...)
Ah! Quem não conhece um fraco?
Na verdade são aproveitadores, gostam de ter boa vida à custa dos outros, costumam falar miudinho, aparentemente são educados, escondem-se por detrás de máscaras sutis e acabam ganhando lugares de destaques, são sangue sugas por natureza.
E os fortes?
- Não choram (na sua frente, deixam para chorar as escondidas).
- Não reclamam dos seus problemas (pois sabem que de nada adiantará).
- Não costuma pedir ajuda (não por orgulho, mas sim porque entendem de quase tudo).
- São prestativos (e os fracos deleitam-se).
- Tem seu próprio cantinho (seja ele próprio ou locado).
- São independentes. (se você sair com um forte ele vai dividir as despesas)
- Costumam ser solitários, os fortes sobrevivem sem companhia.
- Tem poucos mas porém fiéis amigos.
Enfim meu amigo, os fracos são como a areia da praia, eles chegam de mansinho e vão levando o melhor de você são tão meigos que só percebemos sua farsa após muito tempo e mesmo assim muitas vezes permanecemos ao seu lado por compaixão. Fazemos propaganda gratuita dos mesmos;
- “Ajuda ele, ele precisa tanto! Coitado!”
E assim o fraco vai vivendo, lembro-me sempre de uma amiga que dizia com seu sotaque italiano:
“Enquanto tem burro o ladino véve”.
E chego a conclusão de que os fortes serão sempre os “burros” a carregar os ladinos, serão os troncos surrados pelas marés, serão os jarros de plástico esfolados... Mas sobreviverão as dores, seguirão seu caminho, caminho este que sempre cruzará um “cristal”, quer uma dica?
Troque-o por um “plástico”, será sempre útil, sua maleabilidade é impressionante e se acaso ele "cair sobre você" com certeza não o ferirá!