Liberdade ainda que à tardinha

ou

Ditademocracia

Nada tenho contra regras e normas quando elas são justas e sensatas, até porque tenho consciência de que são necessárias para a boa convivência em comunidade, seja em família, seja no mundo.

Mas tenho horror a ditaduras! Tanto que prefiro uma democracia cambeta a uma ditadura "bem intencionada".

Quando se dita duramente regras e normas, há que se ter um controle absoluto sobre os atos e pensamentos dos cidadãos. Neste tipo policialesco de regime, a pessoa é sempre culpada até prova em contrário. E se ela se opõe aos ditames impostos, sofre punições muito severas, muitas vezes pagando com a própria vida. Ou com o prejuízo de sua sanidade física e mental.

E não me refiro apenas às ditaduras políticas.

Há pais, irmãos, amigos, chefes e cônjuges que são verdadeiros caudilhos. Ditam muitas normas e regras, a maioria injustas, ilógicas, absurdas e sempre inflexíveis, sempre intransigentes. E ai de quem os desobedecer!

Como todo ditador quer se perpetuar no poder e julga ter sempre razão, vive em constante paranóia, enxergando traições e tramóias em cada canto, em cada gesto ou palavra dos seus comandados e súditos. Então, dá-lhe interrogatórios capciosos feitos em tom autoritário e carregado de suspeitas, repetindo as mesmas perguntas por vezes seguidas, sem esperar pela resposta inteira, sem dar pausas que permitam ao interrogado pensar e elaborar desculpas ou subterfúgios, de modo a surpreender-lhe numa contradição ou falsidade.

E mais -- todo ditador parte do princípio de que uma suspeita torna-se automaticamente em fato real, sem direito a defesa ou a qualquer recurso que seja. Julga implacavelmente, condena inexoravelmente e executa impiedosamente a pena estabelecida para aquele delito imaginário.

No entanto, pior que as ditaduras declaradas, são as disfarçadas em democracia. Aquelas que agem nos bastidores, mostrando uma cara benévola em público e outra bem diversa em privado. Aquelas que defendem seus aliados, todos interesseiros, fechando os olhos pros seus atos de desonestidade e de barbarismo, em nome de um apoio efêmero e mercantil. Aquelas que punem por meios tortuosamente camuflados aos que não concordam com (e não aceitam) os seus métodos e critérios impostos sob o disfarce de "convites" ou "sugestões". Aquelas que compram com migalhas e altas doses de apelos populistas o apoio incondicional dos simples de espírito e dos iludidos idealistas de plantão. Aquelas que demonizam o saber e o livre pensar, vencendo o "inimigo" através do desprezo e da ridicularização debochada.

Creio na liberdade com responsabilidade, o meio termo entre a imposição ditatorial e o caos da anarquia. E isso vale pras sociedades e pros relacionamentos em geral.

Até porque, ainda que me restrinjam a liberdade do corpo, sempre me restará a liberdade do pensamento que, no máximo, se preservará da vigilância e da punição ao não se expor abertamente.

E do livre pensar eu não abro mão nem sob tortura! Minha mente é o meu castelo, minha cidadela, meu paraíso e meu inferno -- mas nela quem manda sou eu.

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 23/01/2010
Código do texto: T2046349
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