A GRAVIDA DA NOITE

Foi eleita com louvores, com votos e devotos dos juizes com cabeleiras brancas dos cachinhos pendurados. Foi a grávida da noite que deu a luz ao dia que ofuscou olhos vermelhos. Foi a grávida pintada de cores fortes. Com sua boca sensual proferiu sussurros que alucinaram esses mesmos juizes, essas mesmas crianças que buscaram jogos para seu lazer de 2 horas, que quando saciaram suas vontades, quebraram seus brinquedos, pois a mãe dos seus crachás assim o determinaram.

A grávida da noite não solicitou nem impôs regras, mas foi julgada pelas regras, as quais ela não defendeu teses. Foi eleita rainha da noite para depois ser prisioneira do dia. O copo onde compartilhou o veneno, apenas ela sofreu seu efeito. Riu, sorriu, gargalhou ao espetáculo onde foi a atriz principal, mas quando ouviu do diretor “corta” as luzes se apagaram, a cortina abaixou, a sala esvaziou e o cartaz se rasgou.

A grávida da noite ficou com o embrião, que lutava no seu útero, pela falta do sorriso do pai.

Poderia ser grávida da noite, para gestar luas, estrelas, luzes, sonhos, com a delicadeza e beleza que o sol da tarde oferece a sua irmã noite. Poderia ser grávida da noite da esperança, do repouso, do sono e do sonho. Poderia ser grávida da noite do encontro dos amantes que se encontram, do olhar tímido que se aproveita de outros olhares, para se identificarem num encontro esperado. Mas não foi nada disso que aconteceu, foi grávida da noite sim, mas da noite que tudo esconde, camufla e subjuga. Da noite que se aproveita da ausência de luz, do brilho falso das lâmpadas de néon, da falta de estrelas no céu que a guiariam mesmo por um caminho obscuro. Foi ser mãe justamente de filhos que poderiam pagar por um ventre que os abrigasse com suas maldades, seus sonhos dilacerados, seus traumas instalados em seus psiquismos, onde nenhum psicólogo conseguiria resolver em seus divãs terapêuticos. Chegaram como crianças órfãs que necessitam de atenção, mas no final foram embora com crachás pendurados em seus peitos, depois de saciados na sua fome, demonstrando a prepotência sobre quem luta na vida como estagiários, sem sequer tem a chance de um dia serem efetivados.

As lagrimas que você derrama sobre seu veredicto grávida da noite, não tem o mesmo sal que as lagrimas turvas, que eles professam terem sido atingidos por você.

Pode ter a certeza que o seu sol não queimará a sua pele, tanto quanto o sol que os queimará quando eles forem expostos, quando não mais conseguirem surrupiar mais uma grávida da noite, para serem os seus brinquedos.

Di Camargo; 14/10/2009

Di Camargo
Enviado por Di Camargo em 23/01/2010
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