ESTAMOS VIVOS OU MORTOS? PÁSSARO PRESO.

ESTAMOS VIVOS OU MORTOS? PÁSSARO PRESO.

Não há como conhecer nem mesmo o ápice do prazer material em suas várias modalidades, se desconhecemos a verdadeira vida e seus espaços; nosso interior.

A mudança de matéria, permanente, que é parte de nosso ser, sem simbiose do espírito, passa como o lixo, imemorial, o detrito que serve exclusivamente para contaminar.

No silêncio e pelo silêncio sublimam-se ocupações e preocupações materiais. Nele está a fronte da paz a dissipar as dúvidas, todas, amenas ou não, materiais, satisfazendo os sentidos ou deixando-os em pânico.

Seria o encontro do que não quer o corpo, mas clama o espírito, luta gigante travada entre o interior, rico e nobre, com o exterior e suas conquistas falazes, pobres e enganosas que seduzem os fracos.

Significativa porta, silêncio, se abre para desvendar o Deus de cada um, uno e plural, isocronicamente, na ancestralidade cósmica, com referências singulares. Não um Deus tolo, satisfativo, tecido na incredulidade.

É a casa da individualidade espargida para amplidões esse Deus-interior, perdido nas conquistas passageiras, expressivas, não retribuidoras.

ALGUÉM JÁ EXPERIMENTOU PARAR DE PENSAR TOTALMENTE, NÃO DEIXAR QUE PENSAMENTO NENHUM CHEGUE EM SUA MENTE, AFASTAR TODOS QUE CHEGAREM, SE ESFORÇAR PARA QUE ASSIM OCORRA, PARA PODER MERGULHAR EM SEU INTERIOR, SEU SACRÁRIO, IMOBILIZAR A MENTE, AQUIETAR O ESPÍRITO, SE FIXAR SOMENTE EM SUA RESPIRAÇÃO, NOSSA ENERGIA VITAL, VER A ILUMINAÇÃO DO SEU EU, PELO MENOS POR DEZ MINUTOS? TERÁ INCLUSIVE A LEVITAÇÃO DOS BRAÇOS, SE PERSEVERAR. A ISTO CHAMA-SE ESTAR DESPERTO, UM NOVO ESTADO DE CONSCIÊNCIA.

Só assim se poderá ver o que somos, calma e amplidão.

Já pertencemos à eternidade, sempre pertencemos, poucos percebem (primeiro estágio), alguns entendem (segundo estágio), pouquíssimos compreendem (último estágio).

Não se trata de fuga na acepção do vocábulo ou qualquer fundamentalismo. São também tangentes palpáveis, estar em silêncio no meio da multidão, ouvindo falas diversas, sabendo filtrá-las na sonorização interior e permanecendo em silêncio, desperto.

Viver o silêncio não significa cerrar portas e janelas, morrer para o mundo, o que, drasticamente, na ligação com outro mundo, radicalizam sábios e monges.

Ficar em silêncio não é somente mergulhar no recolhimento. Este é um passo radical no encontro do outro lado ainda nesse, o ingresso definitivo no mundo anímico, o qual podemos antever pelo silêncio e na meditação, longe de qualquer materialismo ou pretensão, livre e leve ainda que no burburinho do movimento e das influências exteriores. Nada há de radicalismo fundamentalista nesse abraço possível da existência em plenitude, ao revés.

Viver o silêncio e o hermetismo não significa fugir do sol, cerrar portas e janelas. Ninguém é anacoreta do nada, nem intérprete do impossível ou prisioneiro do inatingível.

Para se ter luz e encontrá-la, há de caminhar-se na escuridão. Em uma enorme sala escura um pequenino fósforo é luz máxima. O sol, a luz, precisam ser vistos, agradecidas suas presenças todos os dias. Os cegos querem vê-lo e não podem. Muitos que têm visão sequer veem o sol.

Viver nas sombras e das sombras, trazer escuridão, é abrir a porta ao cárcere indesejado. Dessa forma não se está vivo, já se pertence à matéria menos nobre, estamos mortos.

Essa luz está em nosso interior e nos chega pela vida, pela luz que o sol representa, nossa liberdade. Nas nações da clássica Europa o sol pouco se mostra, quando acontece, seus habitantes se desnudam nas praças.

É assim também a busca interior pelo silêncio, onde dúvidas se dissipam na iluminação da vida, da luz interior, do sol da compreensão que é filho da liberdade.

É assim como um pássaro aprisionado que pensamos ser privilegiado, pois tem comida sem procurar, abrigo longe das intempéries e canta como a esbanjar alegria, mas seu canto aspira ouvir a resposta dos que estão livres, o som da liberdade, a luz da alegria, única forma de descerrar o dom de viver, que nos homens se encontra no silêncio que é luz da compreensão.

Quem se encontra na disciplina do silêncio, “novo estado de consciência”, pode ser mudo podendo de tudo falar, ouvir serenamente sem retrucar, dar sem avaliar ou mensurar. São antídotos contra o falar sem nada dizer por desconhecer, perecer cotidianamente por reter sem usufruir, não recepcionar e desaprender por nada reconhecer.

Meditar como explicitado, esvaziar a mente, aplacar o espírito pelo procedimento apontado, é um dos meios para se chegar ao maravilhoso mundo de nosso interior, Deus.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 23/01/2010
Reeditado em 23/01/2010
Código do texto: T2046218
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