UM SÓSIA DO PADRE



Por favor:Feche os olhos por alguns segundos e mentalize o Padre Marcelo Rossi.
Pronto,pode reabri-los e a imagem mentalizada é a mesma que você poderá ver estampada em Antonio,o sósia do padre,um dos proprietários do Armazém São Paulo.
Uma casa de comércio aos moldes dos nostálgicos empórios,que funcionou até bem pouco tempo numa antiga casa de madeira antes de transferir-se para um sobrado em modernas instalações.
A família, composta por quatro pessoas arrastando ainda o carregado sotaque polonês,é liderada por êle.Uma figura incrível!
Sempre sorridente,calmo e atencioso,contorna com diplomacia os "arranca-rabos" que acontecem vez e outra entre aquela facção que destila vapores etílicos em graus elevados , constumando bater o ponto assiduamente em seu estabelecimento.
Com a mesma maestria com que promove a paz entre os desafetos,"passa a conversa" na freguesia de tal modo que são raríssimos os que saem de seu armazém sem comprar alguma coisa.Ali encontra-se de tudo;dêsde os mais inusitados artigos como "camisinhas" para lampiões Aladim,lamparinas  e  até ,carretilhas para máquinas de costura (de mêsa...Aquelas!) além de  produtos  sofisticados e atuais.Tudo apresentado ao freguês sobre o espaçoso balcão que separa a familia polonesa da vasta clientela.
Antonio,com seus cinquenta e tantos anos,solteiro e com um bom Ibope junto ao público  feminino,mantém-se na sua:"Gentileza com tôdas,compromisso com nenhuma".E sempre investindo pesado em sua qualidade de bom vendedor.
A técnica do estímulo ao cliente é  sua ferramenta de trabalho.Os embutidos,por exemplo,todos "importados" de uma cidade proxima,cujo apelido é "Vaticano II",dado ao grande número de igrejas,seminários e conventos ali existentes,e a fartura de religiosos e religiosas circulando pelas esquinas,são por êle apresentados sob a forma de pequenas fatias prêsas a um garfo que o mestre faz desfilar diante das narinas inocentes da clientela,acompanhadas de uma descrição , no mínimo exagerada, das qualidades do produto:"Linguiça dos Schafranski...Cracóvia dos Machulek..."Sintam o cheiro dos temperos usados,observem a qualidade da carne e a higiene das embalagens,blá,blá,blá...Não há quem resista à tentação em adquirir ao menos alguns gramas.Legumes,frutas e verduras,são descritos como oriundos dos quintais mais bem cuidados da  região.Naturalíssimos,sem o menor vestígio de agrotóxicos e... regados à água de pôço.(A procedência,evidentemente é do Ceasa),mas com todo êste teatro,leva-se gato por lebre e acaba-se saboreando "os contaminados",com maciez e sabor de produtos ecologicamente corretos.Quando solicitado algum produto que está em falta,rapidamente êle reverte a situação a seu favor,oferecendo outro artigo totalmente diferente. Com a sua apelativa propaganda induz (empurra) ao incauto aquilo que não se cogitava adquirir.
Digo isso com conhecimento de causa,pois já "caí na conversa" inúmeras vezes.Uma delas , ocorre-me no momento:
Feriado de 7 de setembro,(isso já faz muito tempo) papai convocou-me a ajudá-lo no reparo de uma cêrca de arame farpado em sua propriedade.(magnífico programa para um feriado,diga-se de passagem).Pela manhã nos encontramos e percebendo êle a falta de grampos de aço,pediu-me que os comprasse.
_Vai lá no "Antonio Tudo Tem" e traga-me um pacote de grampos.
O comércio fechara-se em função do feriado,apenas o sósia do padre estava atendendo.Neste dia,pela janela.
Era muito cêdo,e mesmo assim fui obrigado a enfrentar um verdadeiro  desafio onde todos os bafos etílicos possíveis e imagináveis haviam se concentrado para "incensar" os ares de minha passagem naquêle corredor humano emparedado à dezenas de sorridentes "Bons Dias!".
Antonio,enquadrado na janela,era o proprio sacerdote sorrindo!Por um instante tive a estranha sensação de ouvir um refrão..."Erguei as mãos,e dai glória a Deus!...Erguei..."Apenas um devaneio,é claro.Sou cordialmente saudado:
_Bom dia "Juélll"!
_Bom dia Antonio.Preciso de um pacote de grampos para cêrca de arame.
Numa fração de segundo,o exímio vendedor apresenta-me um invólucro branco acompanhado da "embromação":
_Grampos,não tenho...Mas acabou de chegar de Prudentópolis (o Vaticano II,Aquêle!) êste requeijão fresquinho,cheirroso (com dois érres,mesmo) feito com leite de puro gado holandês.Vamos levar?Que tal fazer uma torta?Uns piroguinhos?Uns quitutezinhos?...
_OK,Antonio,levo um pacote.
E assim acabei chegando sem os grampos mas com um embrulho de requeijão fresco,sendo convidado a ouvir algumas sutilezas nos delicados protestos de meu pai.
Devidamente "enrolados" pelo expert em vendas,acabamos  concluíndo que:"A cêrca aramada ficou só no projeto,mas as  panças empanturradas com deliciosos pasteisinhos".
Padre Marcelo,digo,Antonio,agora em suas modernas instalações,continua o mesmo.Uma figura fantástica,que sabe conquistar as pessoas e por isso faz-se admirado por todos.
Em recente visita que lhe fiz,fui informado por êle de que as uvas "fresquíssimas" haviam chegado do Vaticano e foram colhidas ao frescor da madrugada,etc...etc...
Agradecido,lhe fiz saber que o objetivo de minha visita naquêle dia era tão sòmente para desejar-lhe um sucesso ainda maior e Boa sorte!
_Quanto às uvas,amigo,estão muito bonitas realmente e dá até para se observar pequenas gotículas de um orvalho "sagrado"perambulando-lhes as circunferências.
Mas,ficam para uma outra ocasião.
O meu amigo Antonio sabe de meu carinho e amizade por êle e tôda a sua família.
Esta crônica,fazendo uma brincadeira,tem um só objetivo.Dizer da minha admiração e respeito pela grande figura humana que êle representa.