Fantasmas
Fantasmas
- Caramba...outro tremor! – exclama o fantasma chefe. Dentro do parêntese estão seus amigos, que diante da exclamação do chefe, passam a exclamar:
(Essa não!// Pôxa vida, esse lugar vai ficar lotado...// Tremor...hic...aonde?// Bem, acho que está acabando, deve ser o Dia do Juízo, vamos ser julgados e cada um vai para o seu lugar, não agüento mais isso aqui)
- Ora, ora, seja bem vindo! – exclama o chefe, vendo um novo fantasma se aproximar, timidamente.
- Eu...- responde o novato – hã...onde estou?
(Essa não! Que imbecil! Onde ele pensa que está? Na Fantasmalândia?!// Pôxa vida, não para de chegar gente...// Novato, hic?// Bem, é como eu dizia, deve ser o Juízo, ontem estava uma loucura...)
- Então... – indaga o chefe – o que aconteceu com você?
- Eu...hã...não vi o caminhão...foi sem querer, sabe...- balbucia o novato.
(Essa não! Que asno! Quem é que tem a intenção de ser atropelado?// Pôxa vida, esse lugar...espera um pouco, eu tive um tio que...// Atrope...hic...lado?// Bem, o pior é que não existe mais o menor critério para os candidatos. Eu me pergunto como farão no dia do Juízo...)
- Bem, meu camaradinha – diz o chefe para o novato – por hora, essa é sua nova casa. Procure se enturmar com os outros...
(Por hora...humpf, ele me disse isso há 150 anos...ei, sai pra lá!// Pôxa vida, daqui a pouco não cabe mais ninguém...oi, pode ficar com a parte de baixo do beliche//Oi, hic, como, hic, vai?// Estamos danados, isso sim...olá, preencha esse formulário, por favor. No Dia do Juízo tem de estar tudo explicadinho...)
- Ora, vejam, um escritor! - exclama o chefe, e ao reparar no tumulto de seus colegas, explica não se tratar de um fantasma. Em seguida, ordena para se aquietarem, se não ninguém ouve nada.
- Oh, céus – lamenta-se o escritor – oh, céus...manda-me uma...
- O que é um escritor? – indaga o novato, que no mesmo instante passa a ser enxovalhado por todos.
(Caramba, que traste, onde esse cara foi atropelado?// Pôxa vida, isso é um escritor?//Escri...hic?//Estamos danados, no Dia do Juízo...)
- Calem-se! – ordenou o chefe – precisamos prestar atenção!
Todos prestam atenção.
- Oh céus – lamenta-se o escritor, numa mesa de bar – manda-me uma alma gêmea...
(Escritores...humpf!// Gêmea? Ele quer dizer igual a ele? Pôxa vida...coitado// Hic, gêmea?// Quem se importa com escritores? Vão ser os mais julgados, ah se vão...)
- Ei, vocês! – exclama o escritor para os fantasmas – façam o favor de se retirarem!
- Bem, pelo visto não somos bem vindos – retruca o chefe – vamos para outro lugar.
(Sim, vamos embora, esse sujeito não tem a menor graça. Escritores só sabem se lamentar//Por que ele não pede uma alma rica? Coitado, veja o lugar em que se encontra...// Alma, hic, rica?// Pensando bem, até agora não entendi porque vamos ser julgados....).