Até o ultimo suspiro...
    
Águida Hettwer
 
    Quando percebo alguém repetindo uma frase, minha mente põe-me em flagrante, pois também as faço. Talvez a faça com receio de esquecê-las. Feito uma carta extraviada pelo tempo. Dessas que selamos com a saliva e guardamos em alguma gaveta revirada.
 
  As lembranças afligem a alma, e provamos o gosto salgado da própria lágrima. Nesses dias cai à tarde em cinza matizado de negrume. E a solidão isola-se no olhar parado perdido no firmamento. Estamos rodeados de gente por todos os lados, mas continuamos ilhados em pensamentos. Desfalcados por dentro, mortos vivos no esquecimento.
 
  Empilhando frustrações, acumulando-as pelos cantos. Transportamos anseios, como quem desce na próxima estação e sem rumo seguimos os trilhos do trem. Retiramos da bolsa a máscara sorridente, para parecermos “normais” e bem sucedidos. Parece que não há luto interior, não há discussões sem fundamento, as famílias são exemplos de paz, amor e união. Ninguém esquece de dar um telefonema, estender a mão, ofertar um elogio sem pedir nada em troca, reconhecer os talentos alheios sem o receio de ser jogado para o escanteio.
 
 Afinal, a película fina da base, esconde as imperfeições da face cansada, das noites mal dormidas, da palavra torpe engolida a seco, as mentiras contadas, enganando a si mesmos.  Dá-se castigo aos filhos pela reprovação de ano, mas não examinamos os cadernos, para ver se não há dificuldades, fechando os olhos para a realidade. Mantêm-se matrimônios em nome das “aparências”, permanecemos em empregos durante anos religiosamente exercendo o mesmo cargo, por receio do novo, por medo de ter que recomeçar do zero, conquistando passo a passo.
   
   Numa falsa harmonia nos desculpamos nos erros alheios daqueles que amamos. Qual é a mãe que não protegeria sua cria com unhas e dentes, em vês de admitirem falhas e fraquezas na educação. Qual é o pai que não faria justiça com as próprias mãos em nome da honra de sua família.
 
 Somos cristais frágeis, a mercê do mundo virado a 180 °. Nascemos chorando, lutamos para dar os primeiros passos, aprendemos a soletrar e rabiscar. Fazemos planos, estudando e trabalhando por anos a fio. Damo-nos de corpo e alma em busca de felicidade e até o ultimo suspiro de vida, brigamos por ela e somos mais que vencedores por que estamos nessa esfera chamada “mundo”. E como o sangue corre quente nas veias, numa batalha não saímos derrotados, escrevemos a nossa história no grande livro da vida.
 
 ...Estive aqui! Hasteei minha bandeira, levantei a voz aos céus, lutei por anseios que na minha convicção foi correto, e faria tudo novamente com a mesma garra que me impulsiona a lutar.
 
                                                                                                     22.01.2010.