Promiscuidade histórica
Quem no ano de 1680, marinheiro, avistou cinco chalupas portuguesas à outra margem do Rio da Prata? Foi o Marinheiro Marcos Román, de Buenos Aires. De quem era a esquadra que ali deitara ferros com a incumbência de lançar as fundações de uma fortaleza? Era a pequena esquadra com cinco chalupas portuguesas de D. Manuel Lobo. Que fortaleza era essa? A fortaleza era a Colônia do Sacratíssimo Sacramento, ou tão somente Colônia do Sacramento. Para que servia lançar as fundações de uma fortaleza ali? Servia para fixar de vez as demarcações meridionais. Essa ação de conquista é um marco para o povoamento do Rio Grande do Sul. (1680)
Portugal investia alto em suas conquistas no oriente principalmente nas Índias. Decorriam quase duzentos anos após o descobrimento, e durante este período inicial da colonização, partindo do fato histórico de D. Manuel Lobo, realizou-se neste país a fase mais feliz da humanidade lírica. O paraíso do amor.
A liberdade erótica plena dos indígenas, sobretudo diante das amarras mentais e espirituais dos colonizadores... O papel fundamental da liberdade erótica indígena é tema pouco recorrente. A “plenitude da promiscuidade” no dizer dos moralistas, afetados pelos recalcamentos do amor, diante do seu Deus incompreensível, uno e triplo; composto humanamente de ferro e prata. Um Deus consumido pela lógica material. Triste o colonizador ter trazido para cá a última coisa que não devia, além da tortura, pela cultura de dominação através do medo: Essa moral herdada dos caminhos malogrados de um jovem judeu pacifista, crucificado, mitificado, institucionalizado como herança feudal para a nova terra. Terra onde não havia nada além do amor livre e da antropofagia. Uma antropofagia fácil de ser substituída pela troca de espelhos, além de outras bugigangas.
Excessos e maus tratos constituintes da nova moral postiça subjugaram as curiosas alminhas. (Poderosos valentes apresentavam medo das sombras e do fantástico). Excessos e maus tratos poderiam ter ficado lá fora. Mesmo assim recebemos das cunhãs um legado magnífico de amor. Liberdade carnal que não se mostra na televisão nem na internet. Oculta e temida, presa as grades da lei, como seria a aceitação das suas drogas, bem como das experiências subjetivas, sem caráter de natureza industrial.
Foi a corrupção do amor livre em sua natureza preservada... Foi a distorcida implantação espiritual das geografias distantes a implacável régua para a regulamentação da nossa alienação moderna e implacável. A espiritualidade tomou o lugar do nosso primitivismo. É nosso primitivismo sem filosofia. Nosso crédito para o quietismo mecanizado em rituais.
Antes o “pecado” do amor á extinção da idéia do amor. A horrível castidade da loucura! A ocultação da luz sensual pela composição das teses caracterizando a imoralidade para degredo? Vence na história humana o colorido solar reprodutivo da promiscuidade. Que a palavra “promiscuidade” é indevida para explicar essa pouca estudada fase da sexualidade humana durante esse período histórico. Tudo o mais não passa de sutil escravidão às ordens, sobre o amor livre, corrompido. Um bom motivo para uma boa tese.
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