A Benção, Bar do Zé Careca

Peço licença ao grande miracemense Adilson Dutra, para também me associar ao seu belo lamento sobre o fechamento do Bar do Zé Careca, publicado no Jornal dois Estados, no dia 30 de janeiro de 2007.

Sim, o bar do Zé careca fechou suas portas, no Natal de 2006.

MORREU, FORA DO COMBINADO !!!

Estamos todos nós miracemenses órfãos do mais tradicional bar de Miracema, que se localizava na principal rua da Cidade, a rua Direita, com cerca de 60 anos de idade, onde frequentaram e desfilaram figuras ilustres e famosas do nosso país. Por lá passaram o fenomenal Garrincha, das pernas tortas; o Ademir Queixada, o camisa nove da seleção brasileira de 1950, amigo de todas as horas do grande Joffre Salim, orgulho de Miracema; o poeta Olegário Mariano; o Prefeito do Rio, Cezar Maia; o jurista e ex- Ministro do Supremo Tribunal Federal, Evandro Lins; Zezé Moreira e seus irmãos Aymoré e o maestro Aderbal, que mora atualmente em Paris. E muitas, muitas outras personalidades.

Por isso, meu caro Adilson Dutra, penso que você foi modesto, uma qualidade aqui da terra, quando você disse que o Bar do Zé Careca era uma referência regional. Ouso dizer que era uma referência internacional, porque esta notícia das portas cerradas do Bar, tenho certeza, vai abalar o meu amigo chileno Quezada, lá em Santiago do Chile. Também vai chocar o Toldo, carioca, que atualmente mora em Maceió, nas Alagoas. Sem falar no Robertão, contrabaixista e jogador de xadrez e que se esconde em Recife, Pernambuco. Em Londres, igualmente acontecerá o mesmo abalo, com os meus queridos enteados Luciano e Saulo. E não quero nem pensar na minha irmã Naná, lá no Rio de Janeiro,que conheceu o Bar e ouvia semanalmente os “causos” e as piadas do Zé Careca . Sempre que contava a ela uma boa piada, ela logo dizia: “essa piada só pode ser do Zé Careca”. Olha, até agora não tive coragem de contar essa má notícia para esse pessoal, eles que tomem conhecimento ao lerem esta crônica.

Portanto, o choque vai ser globalizado, para usar uma palavra da moda.

Mas não posso mesmo é deixar de falar do pessoal da terra. Do Luizão da ótica, sempre explicando que o mundo todo é pura química, desde a hora em que acordamos e escovamos os dentes, já estamos envolvidos com a química. O Maurício Monteiro, querido amigo, coração maior que ele, sempre com a língua afiada, no bom sentido,falando da história de Miracema e da política local. O Zé Hamilton, com suas piadas hilariantes, mas se perguntássemos sobre suas atividades de engenharia, excelente engenheiro que é, ficava sério e dava uma aula estupenda sobre suas obras. E o Cedir? Quanto menos ele conhecia um assunto, melhor ele discorria sobre o que não sabia. O Nilo, botando a boca no trombone contra a política em geral, mas sempre atento para ajudar as pessoas. O Jobinha, que eu chamo de Jobim, e o Vandinho, que nas raras vezes em que não era encontrado no Bar, todos já sabíamos que estava em audiência no forum, já foram muito bem lembrados pelo Adilson . O Luizinho, corretor, explicando a economia do país, sem deixar de alertar sobre a malandragem dos golpes econômicos. O sóbrio e competente João Poeys, que não deixava de tomar o seu cafezinho matinal, dando lições de como preencher o imposto de renda, e olhando fundo no olho do interlocutor, arrematava sempre: “nada de sonegar”... E eu, boquiaberto com tanta sapiência! Espantado, caro leitor? É, ué! (expressão gostosa e genuína daqui). O espaço não me deixa mais continuar a citar tanta gente boa, embora tenha ainda que mencionar a dupla de irmãos Roque e Monteirinho, menos assíduos, mas quando lá chegavam sempre tinham uma palavra sensata para nos dizer. O Brito, com medo do colesterol, me dizia, tomava umas cervejas com queijo picadinho, mas só nos dias pares. Os falecidos Chico Cotó, Luiz Novaes e Heitor Aversa, este,um dos primeiros a pilotar um teco-teco em Miracema. Os funcionários do Bar, claro, merecem registro, o Boi, Zé Carlos e Paulinho, rapaziada honesta e inteligente, exemplos nesta fase de mediocridade moral em que vivemos.

E agora, José? Não temos mais a nossa Academia Popular. A desorientação é grande. O fechamento de um bar, como diz o meu amigo Robertão, lá de Recife, com a sua aguda percepção, “é como perder a nossa casa, a nossa igreja, o nosso consultório médico.” Começo a procurar o culpado. É da nossa tradição procurar um culpado. Pois não é que outro dia ouvi da boca de um físico que o culpado da existência do universo é o Big-Bang! Mas não entro nessa de achar um culpado. Vamos dizer que foi a enfermidade do Ricardo, filho do falecido Zé Careca e que administrava o bar com maestria, a causadora do fechamento do Bar e pronto!

Para encerrar esse pranto saudoso e com uma ponta de esperança na ressurreição do Bar do Zé Careca, acho, com lágrimas nos olhos, que todos nós deveríamos dizer cristãmente: A benção, BAR DO ZÉ CARECA.