EU E O MAR
Nem precisaria estar tão perto dele para dizer o quanto ele me intriga. Nossa relação é de respeito, de admiração, de ternura, até. Minha aproximação tem limites ditados pelo meu medo. Mas, muitas vezes confundo o terror que ele me passa com uma vontade inexplicável de adentrar no seu mais profundo interior. E, nesse conflito, sigo sem nem ao menos definir qual o sentimento que por ele tenho. Sua imensidão quase ilimitada não é maior que meu medo. E, assim ficamos os dois, juntos, mas, longe nessa mistura de amor e ódio, apenas o suficiente para continuarmos nosso caso. Por vezes o acho azul, outras, verde. Acho que depende de nosso dia. Dizem que abriga sereias que cantam e encantam os pescadores...Quem sabe, alguma eu que entrou em suas entranhas e virou sereia. Tudo é possível, até quem sabe, fazermos as pazes, e, eu me mudar para habitar seus jardins de algas mil.
Mas, para isso, tudo teria que ter uma preparação. Tudo começaria com um inocente banho. Nada demais. Aos poucos, iria me habituando com a doçura do abraço salgado.
Esperaria uma noite de lua cheia, vestiria uma túnica de gaze, nos cabelos, flores de jasmim vapor. Enfim, casaria com meu mar, agora já não mais temido. Certamente ele me acolheria com muito amor e, me faria esquecer que um dia nos odiamos.