Revolução pirata

Salve, salve a pirataria! O socialismo vive ao menos no entretenimento do povo! O que o capitalismo queria não era livre mercado? Então, o mercado está livre, trazendo o que acaba de ser lançado na terra do Mcdonalds. A disputa mercantilista para que a aldeia do consumo fosse sempre avantajada agora é direito da gente simples que mora embaixo de lonas sob escoras de pau-a-pique, que passa os domingos vendo o samba de Zeca Pagodinho em shows lotados ou Fundo de Quintal com Demônios da Garoa. Tem também o funk carioca para quem foi contaminado pela televisão. Então mais uma vez, viva a parte em que a gentalha pode lucrar. Tem DVDs chegando até a um real, enquanto a famigerada máfia dos impostos estatais ameaça prender e destruir tudo com o rolo compressor, em frente às câmeras. Mas, para quem não sabe, a mutação deste novo homem que aprendeu como ganhar dinheiro reproduzindo sons e imagens, é como a mosca de Raul Seixas, se você mata uma vem outra em seu lugar, e outras e mais outras... Mas, vamos usar esta conquista com responsabilidade, sendo o mais educativo possível, valorizando o cinema brasileiro e mundial, porém, com moderação nas Brasileirinhas e nos sanguinários de apologia aos crimes cometidos pelos norte-americanos. Está na hora de conhecermos o que deixamos de viver por falta do hábito da leitura, que hoje é de irrisórios mais ou menos 04 a 07 livros por habitante/ano enquanto em outros países do mundo a média é de 10 a 20 livros. Tais números aumentam em países mais frios da Europa. Assistam o romance Luzia Homem do escritor Cearense Domingos Olímpio, onde a crua realidade do campo se mostra escancarada com o pequeno lavrador sendo morto para aumentar as posses do latifundiário, a vingança sendo alimentada a cada dia por quem se apega apenas ao revide como oxigênio para seguir vivendo. Encontra-se também Graciliano Ramos com Vidas Secas, José Lins do Rêgo e nosso Menino de Engenho e outros tantos que servirão para aguçar a curiosidade descobrindo os prazeres do livro que estava empoeirado. Lembro-me de que há algum tempo, numa destas lojas de CDs, havia uma promoção e na banca de super-ofertas tudo a R$ 9,99 estava Zezé de Camargo e Luciano, Roberto Carlos, Belchior e Fagner, este último eu comprei dando pulos de alegria, me sentindo um membro da elite para ouvir todas as canções do meu ídolo e repetir quantas vezes quisesse. Confesso que no dia estava tão importante que pedi para a vendedora não embalar, apenas a sacola personalizada me servia, saí causando inveja em muita gente, fui tomar uma cerveja na Cristal e me desfiz da sacolinha e da etiqueta que indicava promoção. O caro sonho de consumo de todo adorador da MPB estava exposto em cima da mesa. Saiam imortais do Café Galo e cumprimentavam-me sem eu saber quem era, eu estava o máximo, naquele dia consegui comprar um CD de R$ 40. Hoje é diferente, com o que paguei naquela promoção compro 05 ou talvez a coleção inteira. O povo conhece todas as canções destes ídolos e de outros que antes só tinha o poder quando as rádios tocavam a pedido. Isto é Revolução! O país que possui uma das maiores cargas tributárias do mundo deixa de recolher seus quintos por culpa da própria gula, da fabricação exacerbada das máquinas de reprodução e da popularização dos preços. E o povo continua agradecendo, quem compra e quem vende.