É fácil odiar quando se é adolescente. A mãe sempre é a maior vítima. Imagina ela decidindo o certo ou errado para filhos tão desiguais. Primeiro ela achou que a de 16 era muito moça para se casar. Mas ela casou com direito a festa e tudo e se mandou da casa da esquina.

Em matéria de ode ao ódio pela mãe, Jane vencia a vizinhança. Usou um namorado para encontros com outro, e acabou sendo presa no quarto da casa da esquina. Envergonhava a família com tanta rebeldia. Jane teve vontade de jogar mensagens pela janela anunciando ao mundo que estava presa por intriga. O problema de anunciar ao mundo o motivo da prisão é que o mundo poderia achar que a mãe estava certa e aumentar a vida com merdas punitivas.

Da esquina avistava rostos para lá e para cá. Quisera poder ler uma mente ou outra que pudesse lhe entender os sentimentos. Não existia atuais tecnologias. Telefone fixo era um luxo da sala de estar. Precisava de um pombo correio humano que não lesse a carta de amor e desespero. Mas não havia cara de pessoa certa. Pareciam caras que de amor nada entendiam. Quando se ama com tanta sede de viver outros mundos, amar angustia. Começou a fazer poesias.

A mãe certa rasgou todas as poesias da filha errada. Só porque era de desamor por ela e amor por quem ela não gostava. Rasgou todas as suas lágrimas pela esquina da calçada. Rasgou suas noites de lua. Rasgou sua visão amorosa de mundo e as chuvas com doces delírios e rimas das calhas.Tinha rasgado as primeiras com visível ódio, dizendo que aquilo era falta de serviço. Depois começou a por fogo sem rasgar ou ler. E o fogo crescia na esquina separando mãe e filha. Até que a filha cresceu e partiu para a vida. E a mãe lavou as mãos da cria.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 21/01/2010
Reeditado em 21/01/2010
Código do texto: T2042526
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