O Brasil arcaico, do Estado paternalista

Comunistas e capitalistas têm em comum a adoração pelo Estado, este monstro que nos consome, nos toma impostos e não nos dá nada, além das falcatruas, do uso indevido de verbas para benefício próprio ou partidário-eleitoral.

O Estado é uma concepção antiga e tanto pode ser gerido democraticamente, imperialmente ou ditatorialmente. É idéia que vem da Grécia antiga, também idolatrada como berço do Ocidente, mas esquecem de dizer que 9 entre 10 gregos eram escravos na Grécia de Platão (a razão ocidental ensina a passar por cima desses detalhes).

O amor pelas definições eruditamente justificáveis e pelas teorias elitizantes sempre foram proporcionais ao desprezo dos milionários pelo sofrimento dos pobres. Neste caminho, “quanto mais esperto é o Estado, mais bobo é o homem” – diria André Glucksmann – filósofo francês.

Os teóricos tiveram os olhos da realidade pra planejar o futuro dos homens, mas no fundo reservaram sempre um lugar no trono para si próprios. A teoria da exaltação ao trabalho, de que é possível subir na vida assim, na labuta, existe porque ainda não inventaram uma magia melhor, ou não podem mais voltar totalmente ao estado escravagista.

A possibilidade de “subir na vida” dos operários de hoje é mais rentável aos patrões que o trabalho escravo de outrora – diz Glucksmann – só setores do Brasil ainda não perceberam isto. Em rincões do Nordeste do Brasil ainda há muita escravidão branca nas fazendas e mesmo na Capital de São Paulo, bolivianos são escravizados em oficinas insalubres em bairros da Casa Verde, Brás e Bom Retiro, por micro-empresários coreanos, que, por sua vez, trabalham para grandes magazines – é a globalização da escravidão e a tercerização do escravo.

É claro que há países onde a possibilidade de “subir na vida” existe de fato, principalmente na Europa, mas isso se dá à custa dos países subdesenvolvidos. Nota-se que nos países-exemplos é onde também há maior concentração de Capital – vide o exemplo Suíço – que oferece vida de rei à maioria do seu povo, à custa de dinheiro desviado, por exemplo, por ditadores africanos; dinheiro sujo da corrupção brasileira (vide denúncias nos jornais sobre os dudas mendonças e valeriudutos da vida), sem falar do dinheiro do tráfico internacional e outros dinheiros sujos que ali chegam difusamente.

Na estrutura do capitalismo do nosso País, por exemplo, onde perdura a estrutura arcaica de leis, feitas há mais de 50 anos, e um sistema de arrecadação de imposto que achaca as empresas (e o povo em geral) para sustentar um Estado paquidérmico, paternalista e esmoler. Nesse processo, a mão-de-obra é a mais desvalorizada possível e tem noção disso, mas o trabalhador brasileiro dorme sobre o amparo do paternalismo e sobre promessas de líderes messiânicos, que não avançam o processo de modernização do Estado (pelo menos).

Hoje o povo contenta-se com os vales e bolsas-qualquer-coisa dados pelo governo. No âmbito pessoal, muito dos trabalhadores ainda age como o lupensinato dito pro Karl Marx, ou como define Glucksmann em seu livro A Cozinheira e o Canibal: - "Tem como preocupação encontrar um meio de arrebentar os sapatos para não ir trabalhar, deteriorar um guincho afrouxar uma roda, quebrar uma pá, afundar um balde, tudo para achar pretexto para ficar em um canto e fumar um cigarro" – ou simular doença pra não ir trabalhar. E assim vamos, ou melhor ficamos no buraco.

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Texto de Célio Pires sobre idéias de André Glucksmann, vide o livro “A Cozinheira e o Canibal”