VELHICE
Meu irmão chamou meu sobrinho outro dia de “incengado”. Desde criança que eu não ouvia esse termo. Compreendia bem o que era mas nunca tive ímpeto de pesquisar o significado. Agora procurei no dicionário e em todos os lugares onde pudesse encontrar alguma definição e só encontrei no google. Aonde? Numa crônica que eu mesmo escrevi faz tempo. Não vale. Cismei, ou melhor, fiquei incengado também com ela.
O primeiro sinal de que uma pessoa é velha pode não estar nas rugas surgindo, cabelos branqueando ou aquela paciência que começa a se manifestar no trânsito. Vem de dentro. Quando diz “eu sou assim e pronto”. “É o meu jeito e não vou mudar” “sempre fiz desse jeito e acho que só assim é que está certo”. Além de teimosa, a pessoa costuma ser cismada com todo quanto há. Tem uns que chamam de manias de velho.
Faz cinco anos que perdi um bom amigo, o Daniel. Estaria hoje com 56 anos. Aprendi muita coisa com ele profissionalmente e na vida aprendi mais um pouco de discernimento e a cultivar hábitos de mutabilidade de pensamentos por causa de tantas brigas que tivemos. Ele sempre achava que a sua razão era a única válida, imutável e que devia prevalecer sempre e acima de qualquer outra coisa. Aquela pessoa que a gente insiste em chamar de teimosa. Um bom sujeito, afora essas certezas todas, que para mim caracterizavam uma velhice precoce.
Até o seu coração tentou demovê-lo. Teve nove paradas cardíacas num mesmo dia. Era como uma segunda e até nona chance que o próprio coração lhe ofereceu de mudar. Mas acho que preferiu ir com suas verdades. Saudade daquele incengado!