Terça-Feira

Terça Feira

Agora passam das 8h da noite.

Está uma noite muito abafada, e muitos relâmpagos riscam o céu e seus barulhos parecem o som de um tambor gigante.

Desde cedo ( 4 horas da tarde) o tempo começou a mudar. O céu dava os primeiros sinais de que uma forte tempestade ia cair. Também muitas trovoadas roncavam, apesar de o céu estar claro.

O céu começou a escurecer. Nuvens negras começaram a cobrir o céu; parecia fumaça – resultado de uma grande fogueira.

Quando eram mais ou menos 6 da noite, começou a cair uma chuva tímida, bem fininha. O pai de Marcelo, que estava sentado na praça, entrou e guardou as duas cadeiras que estavam lá fora.

Todos ficaram dentro de casa.

De repente, uma forte ventania começou. Sua irmã, Rafaela abriu o portão , e foi na rua. Impressionada, o chamou.

Lá fora, o vento era impiedoso, varria a poeira do chão e arrancava as folhas das árvores. Os coqueiros se envergavam, galhos de árvores dançavam em ritmo acelerado, frutas voavam no ar. Pessoas andavam apressadamente para suas casas, mães vinham procurar os filhos aos gritos.

Os dois entraram.

A mãe de Marcelo dizia:

__ Oh, minha Santa Bárbara, faça com que essa ventania pare!!!

Se reuniram na sala. O sobrinho, de 4 anos, apavorado com os gritos do vento, se encolhia no canto do sofá e tapava os ouvidos.

A outra sobrinha desenhava, enquanto a mais nova estava bastante animada; pulava pela sala e dava gritinhos de alegria.

Letícia, a irmã caçula de Marcelo, estava sentada no sofá, com um ar despreocupado e aristocrático, enquanto Marcelo, Rafaela e os pais foram para a varanda. Contemplavam o céu. A goiabeira se curvava, como um súdito presta reverência á um rei.

As telhas da parte de trás da padaria ( que ficava em frente á casa da família) começaram a se bater; pareciam teclas de piano pressionadas por dedos habilidosos. Mas o som que saía não era nada agradável, e nos mostrava que o desfecho desse concerto não seria nada elegante.

De repente aconteceu o que todos esperavam: a telha da ponta se soltou e saiu voando.

E o vento continuava firme, como um pai severo que castiga uma criança travessa. E eles na varanda, a olhar o desenrolar do show ( de destruição).

Uns 40 minutos depois, o vento começou a se acalmar até se transformar numa leve brisa. Agora parecia uma mãe a afagar a criança que outrora apanhara do pai. Uma chuvinha rala, mas de pingos grossos, começou a cair, e logo depois as notícias começaram a chegar, cada um aumentando , ou inventando fatos:

__ Já estão sabendo? Metade do telhado da Betânia voou!!!

( Apenas uma ou duas telhas haviam se desprendido)

__ E as telhas das quitinetes do Seu Afonso, coitado... ainda estava construindo... o telhado inteiro sumiu!!!

( O telhado das quitinetes do Seu Afonso estava intacto)

__ Pessoal, não sabem da última!!!!! Sabe aquele muro enorme que a Isabel construiu? Aquele que mais parecia a muralha da China... Pois é, o vento o derrubou e ele caiu por cima da casa da Doca!!

Todos ficaram espantados com a notícia. A Doca era uma mulher de 60 anos, poderia Ter se machucado. E logo veio a confirmação: o muro realmente havia caído em cima da casa ( sorte que não aconteceu nada grave. A casa de Doca tinha laje – que era bastante firme ).

Ela apesar de ser uma senhora, não tinha papas na língua, e foi até a farmácia de Isabel; quebrou o pau, armou o maior barraco!

Até agora, isso foi tudo o que aconteceu na vizinhança de Marcelo.

E ele que achava que essa Terça feira seria mais um dia monótono, véspera de feriado de São Sebastião...

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Igor P Gonçalves
Enviado por Igor P Gonçalves em 20/01/2010
Reeditado em 03/02/2010
Código do texto: T2041004
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