Entendendo sua própria divindade
Escrevi uma crônica bem humorada sobre a onda de abrir igrejas ditas evangélicas, que na realidade são arapucas para explorar a boa fé dos humildes. Um membro de igreja evangélica, meu amigo particular, enviou mensagem protestando contra a forma com que abordei o assunto. Acha que zombei do nome sagrado de Deus.
Há que saber a qual espécie de Deus ele se refere, porque são tantos! Falo da ideia de Deus, também do uso que a humanidade faz dessa ideia desde tempos imemoriais. Não sou bom nesse tema, confesso. É muita teoria, definições e “verdades absolutas”. Nem aqui é lugar para discorrer sobre assunto profundo e polêmico como esse. Eu pessoalmente acho que nós somos Deuses. Dentro de nós está o sentido de tudo, a chave do grande mistério da vida e da morte.
Pulando, entretanto, essas meditações filosóficas, minha imposição interna irresistível pelo mistério do homem enquanto salvador de si mesmo leva a falar de outros milagres, a tecer os destinos das pessoas. Cito aqui duas figuras que fizeram parte do meu caminhar, comigo cruzaram na aventura da vida, sendo que suas histórias remetem ao pensamento de Albert Einstein quando revelou: “A mente que se abre para uma nova ideia jamais voltará a ter o tamanho original”.
Um desses sujeitos chama-se Zé Ramos, cara que nasceu no mesmo dia, mês e ano que eu, portanto um escorpiano teimoso, emotivo e decidido. Escorpião é um signo com muito magnetismo. Sua energia emocional às vezes faz o que até o diabo duvida (perdão por ter introduzido outro ser fantástico e invisível neste lero-lero). Pois Zé Ramos saiu do mato, morava na roça, para estudar em Itabaiana nos anos 70. Por lá nos encontramos. Ele se envolveu com teatro amador e teve seus primeiros contatos com os livros na Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz. Depois seguiu seu rumo, formou-se bacharel em Direito. Hoje é um advogado bem sucedido, evoluiu na profissão. Outro dia encontrei-me com ele no seu escritório. Apresentou-me ao seu sócio:
− Esse é o cara que me abriu os caminhos para a vida, depois de me apresentar aos livros.
O outro sujeito que teve uma caminhada fantástica vim a conhecer há uns três anos. Era um jovem ignorante, de família pobre e analfabeta, morador de uma comunidade super-carente de Itabaiana. Entrou para o grupo de teatro, começou a incursionar pelo mundo mágico da literatura e da arte, nunca mais parou de evoluir. Hoje esse camarada tem planos audaciosos para o futuro, mexe com maestria nas modernidades da informática, dá aulas de teatro, aprende novas habilidades, vê o mundo com outros olhares, despertou a necessidade de adquirir conhecimentos para se superar. Edglês Gonçalves é o nome da fera.
Uma oração hindu: "rogamos a Ti que ilumine nosso intelecto, dispersando nossa ignorância, assim como a esplendorosa luz do sol dispersa toda a escuridão". O hindu acredita que todos os nossos problemas são decorrentes de nossa ignorância. É nesse Deus e nessa religião em que acredito.