Alegre reencontro

Alegre reencontro

O telefone toca. Atendo distraidamente.

Do outro lado uma voz feminina me chama pelo nome. Não reconheço a voz e pergunto:

-Quem está falando?

-Oi amiga! É Aída. Lembra de mim?

Rapidamente busco em minha memória tal nome. Já um pouco aflita só encontro uma velha amiga de infância. Será?...

Tento disfarçar, na esperança que surja alguma outra informação e que minha memória não esteja a pregar-me uma falseta.

- Sou eu, sua amiga de infância. Lembra quando brincávamos de escolinha na casa de sua avó?

Quase perco o fôlego. Era ela mesma! Há tantos anos não nos víamos.

- Claro que me lembro. Falo tentando disfarçar meu embaraço - Que surpresa. Há quanto tempo!?

-Pois é. Eu e a Ana; lembra da Ana? Brincávamos juntas... Ela veio de BH e agora é minha vizinha; estávamos conversando, lembramos de você e resolvemos ir visitá-la. Amanhã vamos tomar café com você.

Concordo num misto de entusiasmo e surpresa. Afinal, era tudo muito inesperado.

Devo confessar que não sou muito social, e que visita, às vezes, atrapalha meu isolamento, mas a perspectiva daquele encontro me cobriu de entusiasmo. Seria como uma volta ao passado. Rever amigas que conheci criança, era algo que, realmente, não esperava.

Fiquei a imaginar: como elas estariam? Velhas, como eu, certamente... Não nos viamos há muitos e muitos anos. Aliás, em criança, eu só as encontrava nas férias, quando saia do Rio de Janeiro e ia me expandir em casa de minha avó, no interior de Minas. Depois, com o passar dos anos, nossas vidas tomaram rumos diferentes e das pequenas amigas, restou apenas à lembrança.

Sempre tenho receio de rever lugares ou pessoas que marcaram minha vida. Penso que nossa memória é falha, e nos ilude. Formamos e guardamos imagens conforme nosso estado de espírito na ocasião; e estas imagens nem sempre condizem com a realidade.

Não rever é, pois, uma forma de tentar preservar boas lembranças.

Por isso mesmo, rever amigas de infância me trazia grande expectativa.

O dia seguinte chegou... Com ele os preparativos e o aumento da ansiedade.

Calculei que as visitas chegariam às três da tarde; hora do chá. Para este momento já havia preparado bolo, chá, biscoitos, e a melhor louça.

Porem...Ao meio dia, almoço na mesa: os cães começam a latir.

Alguém no portão. Quem seria?

A informação vem a seguir: Há duas senhoras entrando.

São elas!...E eu nem me ajeitara, para receber e dar boa impressão.

Abro a porta com o coração acelerado.

A minha frente duas senhoras com um largo sorriso. Para meu espanto e encantamento vislumbro, por trás das faces envelhecidas, dos cabelos prateados, dos corpos arqueados pelo peso da idade e das lutas travadas: os mesmos rostos da infância, o mesmo olhar e o mesmo sorriso. Percebo que, por trás da mascara enrugada, éramos agora, as mesmas jovens de ontem.

O corpo se transformara, mas a alma era a mesma.

Com a espontaneidade própria da criança de outrora, retribuo o sorriso enquanto abro os braços e convido:

Entre, a mesa está posta, vocês chegaram na hora.

Este alegre reencontro traz em minha mente os versos de Chico Buarque em “Valsinha”)

Um dia, “elas chegaram” tão diferentes..................................

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(E foram tantos risos, tantos desabafos e recordações...)

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E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou

Que o mundo compreendeu

E o dia( ou a noite?) amanheceu

Em paz

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 19/01/2010
Código do texto: T2038802