MENINOS DE RUA
Numa certa esquina de minha vida, parei para ver o tempo passar.
Sentia-me como se fosse o prédio mais bonito de uma grande cidade.
Sim, um prédio frio, calculista, exatamente feito de concreto, porém, construído sob medidas arquitetônicas, perfeitas, exatas.
Imponente, majestoso, eu era o prédio que todos gostariam de ser!
Quando parei atento a tudo e a todos, meu coração movido pela adrenalina, subia ao cérebro, disparado como um raio das nuvens.
Eram vidas heterogenias, gostos, comportamentos, atitudes de todas as formas e espécies. Maconha, cocaína, merla, cola de sapateiro, e outras drogas mais, rolava com naturalidade por ali, e o cheiro da erva pairava no ar...
Era coisa demais para o coração de um Prédio!
Chamou-me a atenção, lá embaixo, aos meus pés, um amontoado de alguma coisa sem nome, que se movimentava esquisitamente.
Petrificado, fiquei como uma estátua, e obriguei meu coração a descer rapidamente, para que ele fosse ver e sentir de perto aquele amontoado sem nome, que se movimentava esquisitamente.
Enquanto isto, meu cérebro observava e registrava tudo, qual um computador!...
Ai!... Desalento total! Aqueles farrapos movediços eram os que a sociedade chama friamente de “MENINOS DE RUA”.
Eu os chamaria de Ecos de uma Sociedade racista e competitiva.
Pude ver e sentir que os meninos de rua são mais puros, mais humanos e verdadeiros que todos nós que nos colocamos em posições de destaque, como o meu Prédio.
O Prédio que estava a meu lado, perguntou-me indignado e insinuando desprezo: - Como pode comparar aqueles seres deformados, a nós que somos trabalhadores, íntegros, a nós que somos a elite da raça humana, e que aquecemos o Planeta com o saber, a ciência e a tecnologia?
Fiquei triste ao ver as duas faces da moeda dos homens!
Posso ver claramente que os dois lados da moeda precisam ser polidos para poderem brilhar com a mesma intensidade.
As faces da moeda serão sempre diferentes, distintas, porém, uma será sempre parte uma da outra.
Enquanto conversava com o Prédio do lado, meu coração via, sentia e se embriagava com o êxtase daqueles Meninos e Meninas sem Lar.
Desprovidos de qualquer escrúpulo, sem preocupação alguma, tentavam adormecer a realidade de suas vidas, dando voltas em sonhos e viagens...
Eles têm um lema: Um por todos, todos por um, numa viagem alucinante.
Exausto e melancólico, meu coração quedou-se à beira da calçada!
Por um instante perguntei-me: Quem é na verdade o marginal nesta realidade trágica e mortal? Quem é quem no total da soma humana?
Foi com os olhos do coração, que busquei enxergar mais longe, e qual um cão farejador, contatei que em todas as cidades temos milhares de viajantes alucinados, aos quais numa figura gramatical irônica, chamo de Meninos e Meninas de Prédios.
Quase desanimado, concluo que não há diferença entre comer no preto ou debaixo da mesa...
O ser humano está longe de SER; a fraqueza humana, o egoísmo e a falta de amor são nódoas difíceis de se apagar.
É preciso que comecemos, já, uma conscientização geral, uma mudança radical e profunda em nossas vidas, para deixarmos de ser “ Prédios” e sermos mais Humanos, mais Gente!
Convido a todos os que pensam como eu, para darmo-nos as mãos, e vamos lutar para construirmos um mundo melhor e uma sociedade mais digna, mais humana, que dê esperança e segurança aos nossos filhos, aos homens de amanhã!
Cesta vez um homem disse para a humanidade algo que ficou gravado em nossa lembrança :
“Irmãos de toda a terra, amai-vos uns aos outros...”.
Jesus de Nazaré.