SOBRE AS FALAS DOS PRECONCEITOS
SOBRE AS FALAS DO PRECONCEITO
(...) Talvez com o risco de ser mal-compreendida, vou dizer de falas que, em minha opinião, ainda que menos graves, por exemplo, do que as de “atenuar” a negritude de Machado de Assis, chamando-o de mulato, de mestiço, se revelam eufemismos através dos quais se mascara o real, como chamar os cegos de “deficientes visuais” (deficiente visual sou eu, que tenho uma miopia razoável na vista esquerda); como dizer que os idosos estão na “melhor idade”; como chamar aposentado de “inativo” ( neste caso, a palavra adquire até mesmo uma conotação pejorativa, de cunho ideológico); como surdo ser denominado “deficiente auditivo”. Afinal, qual o problema de se dizer “surdo”, “cego” “idoso”? Para mim, aqueles eufemismos revelam um paternalismo e uma postura que, pretendendo-se anti-preconceituosa, acaba por revelar uma outra face do preconceito, sutil e, talvez por isso mesmo, mais perniciosa. Será que alguém vai concordar comigo?
Zuleika dos Reis.