À GUISA DE SOLIDÃO

“Solidão é lava que cobre tudo

Amargura em minha boca

Sorri seus dentes de chumbo

Solidão palavra cavada no coração

Resignado e mudo

No compasso da desilusão.”

(Dança da Solidão - Paulinho da Viola)

A NOTÍCIA

Solidão é contagiosa como uma doença, diz pesquisa

Um estudo conduzido conjuntamente pelas Universidades de Harvard, da Califórnia, e de Chicago, mostrou que pessoas solitárias costumam espalhar seu modo de encarar a vida a quem os cerca e que, após um tempo, esse grupo acaba se posicionando à margem da sociedade. Aparentemente o processo funciona, pois pessoas solitárias têm menos interações com os outros e só isso por si leva os outros a sentirem o mesmo.

Segundo o líder da pesquisa, Dr. John Cacioppo, existe um padrão de contágio da solidão que leva as pessoas a se afastarem da vida social e destruir até mesmo os poucos laços de amizade que restam...

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Fonte: http://vidaeestilo.terra.com.br/homem/interna/11/12/09

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A CRÔNICA

Trabalhei durante sete anos com o Gouveia e só descobri que ele possuía dentes porque almoçava no mesmo restaurante que todos. E mastigava. De vez em quando também proferia umas poucas palavras. E dava para ver que tinha dentes de uma simetria e brancura invejáveis. Sorriso, nunca mostrou. Sisudo e carrancudo, ficou prejudicado em todas as possibilidades de ascensão na carreira, apesar do grande profissional que era. Entendia de sistemas hidráulicos, desenhos técnicos e matemática como poucos. Seu comportamento parecia de um autista. Diziam que era um solitário. Eu preferia dizer que estava numa fronteira entre timidez, misantropia e falta de educação. Se não fazia bem a quem quer que fosse, também mal físico não arriscava. Estava mais para a impassibilidade. Só tinha um detalhe que o afastava de amizades sinceras: era um agiota. Talvez seu riso se reservasse para os momentos em que estivesse sozinho em casa contando dinheiro e o mal que ele causava fosse a ira que atraía para si por causa dos juros altos.

As formas como as relações humanas se estabelecem costumam esvaziar alguns conceitos ou então enchê-los de significados de tal forma que o próprio conceito fica confundido. Liberdade, solidão e felicidade são três estados da alma que bem poderiam compor, junto com o tempo, o universo das relatividades. Quase nunca sei definir essas coisas com muita propriedade. A solidão que me acomete de vez em quando é uma escolha que faço por necessidade de reclusão para elaborar alguma forma de me sentir colocado no mundo. O mundo não se adapta a ninguém por mais poderoso que seja o sujeito. A própria subjetividade elimina essa possibilidade. Isso, não creio que contagie ninguém. A minha felicidade não passa de um estado de alegria do espírito e já notei que, se bem cuidado pode ser duradoura. Minha liberdade é poder sonhar, ir e vir. E uma certeza quanto ao meu pensamento: ele é inexpugnável. Contagioso é mau humor.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 19/01/2010
Código do texto: T2038028
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