O sorriso do palhaço
Abriram-se as cortinas e ele surgiu para ocupar o centro do picadeiro. Era por muitos aguardado e fora anteriormente anunciado com grande alarde.
Não podia decepcionar, pois muitas expectativas eram criadas em razão do seu personagem e provocar gargalhadas era o seu ofício. Era a alegria do circo, estava ali para entreter e alegrar uma multidão ávida por momentos como aquele, sedentos para extravasar o riso.
E diante de sua platéia formada por diferentes idades e classes sociais, desfiou o seu repertório de piadas, encenou situações engraçadas e terminada a sua apresentação, sendo aplaudido com muito estrondo e entusiasmo, recolheu em silêncio para o vazio do seu camarim. Ali se despia da sua máscara e iniciava outra história. Tão real quanto a que vivera minutos atrás, porém com menos riso.
Retirou cuidadosamente a maquiagem, enquanto a face revelava as suas macas de sofrimento, denunciando a sua vida de dramas, de amarguras, de aventuras e desventuras da sua luta diária.
Era alguém que vivia de sentimentos contraditórios, ora o riso, ora o pranto, ora a alegria, ora a dor. Mas o palco tinha lugar somente para o artista, para o palhaço e suas tristezas e dissabores não podia deixar transparecer.
No apagar das luzes, voltou para o seu cotidiano, para sua casa, onde mulher e filhos o esperavam. Amanhã tudo se repetia e novamente era esperado, com as mesmas expectativas. Afinal, o show tinha que continuar.