E SALVE-SE QUEM PUDER...

Onde moro, antigamente, foi terreno de uma fazenda. A cidade cresceu e a área agora é quase central. Daquele tempo restaram em meu quarteirão algumas velhas mangueiras que, devidamente protegidas, avançam com suas copas sobre a rua. Da minha janela, não raro, posso ver os galhos enormes carregados de mangas maduras que caem e se espalham pelo chão virando festa para os passantes.

À noite, a rua sem movimento, escurecida ainda mais pelas sombras enormes das árvores, tornou-se lugar propício para certos namoros furtivos. São muito comuns por ali casaizinhos apaixonados, agarradinhos, trocando suas juras. E não adianta reclamar. Os vizinhos, incomodados com cenas nem sempre recomendáveis à determinada faixa etária, no caso a das crianças, já desistiram. Preferem guardar os filhotes dentro de casa e puxar as cortinas, decretando assim, eles mesmos, a lei da censura.

Ontem fui convidada para um aniversário de criança, na casa bem em frente ao “cantinho do amor”. Lá pelas tantas, os donos da festa resolveram soltar alguns “foguinhos de artifício”, coisa pequena, sem qualquer risco, mais por diversão. Local escolhido? A rua que é de pouco acesso e quase não tem trânsito. E afinal o “show” não passaria de alguns minutos...

Todo mundo foi pra frente da casa. Lindas gotas de luz no ar faziam as maravilhas pirotécnicas que arrancavam gritos de alegria, principalmente da criançada. O espetáculo que durou quase nada, no entanto, teve fim surpreendente: o último artefato subiu, ricocheteou no ar, descrevendo uma trajetória cheia de reviravoltas... E onde foi cair? Bem no meio de um casalzinho que namorava escondidinho atrás do tronco de uma mangueira...

Surpresa geral! Ninguém tinha dado pela presença dos pombinhos ali no escurinho e foi estranho vê-los se levantando correndo, cada um para um lado, assustados pela descida inesperada de um “foguete” bem no meio deles. O rapaz disparou em desabalada carreira. A mocinha tentava se ajeitar, alisando o cabelo e esticando a minúscula saia.

Tensão geral na assembleia que, estupefata, assistia ao inusitado fato. Teria acontecido o pior? Alguém teria se ferido? A dona da festa, sem mais delongas, achou por bem averiguar o ocorrido. Depois de checar que tudo não tinha passado de um grande susto, tentou explicar o inexplicável e, por fim, pediu encarecidas desculpas ao jovem casal por lhes ter invadido momento tão íntimo e perturbado a paz de namoro tão romântico...

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 18/01/2010
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