Local de Catástrofe ou Altar Pagão
Estamos vivenciando, agora, a catástrofe que se abateu
sobre o Haiti, se não o mais miserável um dos mais miseráveis países
da Terra. Desde os tempos do Papa Doc e do Baby Doc que temos
consciência da exploração e estado de miséria do povo haitiano. E o
que foi feito desde então?-Nada ou quase nada...Só pequenas ajudas
e medidas paliativas, coisas pontuais que não mudaram e não iriam mu-
dar nunca o deplorável quadro. Foi preciso que a força destruidora da
Mãe Natureza se fizesse presente, para que os povos, os países, saís-
sem da letargia e corressem em socorro do povo sofrido e,agora, mas-
sacrado do Haiti. Porquê, não antes? Quantas e quantas tragédias se-
rão necessárias pra que a solidariedade, o amor ao próximo, deixe de
ser eventual? Afinal, solidariedade ou medo? Solidariedade ou purgação
de culpas?
Infelizmente acho que é mais purgação de culpas e ofer-
tório as forças desconhecidas que amor ao próximo. Em pleno século
XXI o homem se curva às forças da natureza como o faziam seus an-
passados há milênios. Oferendas e mais oferendas para que a Nature-
za se acalme e não os atinja. Serve de altar pagão o triste e aterrori-
zante local da tragédia. Como explicar a bondade súbita de todos os
que até então pouco se importavam? A França perdoa dívidas e con-
clama seus pares do euro a fazer o mesmo. Todos mandam alimentos,
remédios, roupas, equipes de médicos e toda a parafernália de que
sempre dispuseram e nunca antes disponibilizaram. A troco de que?
Será que só agora tomaram conhecimento e consciência das agruras
e sofrimento do povo Haitiano?
Quantos altares pagãos ainda nos restam? Quantos po-
vos ainda vivem na mais absoluta miséria? Quando serão ajudados?
Quantos terremotos e tsunamis serão necessários para que a solida-
riedade não mais hiberne?
A solidariedade de agora, muito se assemelha ao famoso
Espírito de Natal.