Dá um tempo, vai?!

(Escrito para o blog www.kuriate.com.br que eu ainda não postei lá)

Fabuloso é o desenvolvimento científico, principalmente quanto à melhoria da "qualidade" e da "expectativa" de vida. Nunca se viveu por tanto tempo e com saúde. Não raro, homens na "melhor" idade ainda são ativos, trabalham, estudam, fazem sexo (com a ajuda da pílula azul porque ninguém é de ferro), são vaidosos, fazem plástica, enfim, continuam "jovens". Ah... que maravilha...

Tudo bem que agora é possível viver até os 100 anos ou mais. No reino animal, até que é razoável. Para um bicho que tinha uma estimativa de vida de 20 anos tempos atrás, isso representa um inegável avanço, resultado de sua alta capacidade intelectual e cognitiva. Ah... sim, bravo! Clap! Clap... clap (pra quem não entendeu a onomatopéia isso foram palmas sem o menor entusiasmo).

No Neolítico, período no qual nossos ancestrais começaram a aprender técnicas de agricultura, deixando o nomadismo de lado, formando tribos e se "civilizando", vivia-se no máximo até 20 anos. Era só caçar, plantar, coçar, transar. Deve ser por isso que eu, nos meus vinte e poucos, estou me sentindo como um velho inútil (mas isso não vem ao caso, tenho de ser racional, objetivo e distante).

Já nos sapientes tempos modernos, vive-se por mais tempo. Antibióticos, vacinas, urbanização, máquinas de lavar, academias, camisinhas, embalagens descartáveis e e hermeticamente fechadas, alimentação orgânica - livre de agrotóxicos e "químicos" (proposital), zen-budismo, lexotan (ainda não existe o Soma huxleyniano), auto-ajuda, carros esportivos, internet, orkut, twitter, videogames, animes. A vida se estendeu por melhorias sanitárias e, concomitantemente, deixou de ser apenas caçar, plantar, coçar, transar.

Há relógios por todos os cantos possíveis, no quarto, na sala, no escritório, no computador, no celular, no carro, na padaria, no mercado, na sua mente movendo engrenagens em perfeito descompasso com os batimentos cardíacos - quando um bate o outro trava, e assim segue sem o menor ritmo. Vivemos mais, tudo bem. Contudo, entupimos nosso irrisório tempo com coisas fúteis (lendo esse blog, né esperto?). Os ponteiros marcam a passagem, avançam impiedosamente, cada vez mais rápidos. Conte um minuto mentalmente e verá que se passaram vários dias. Um fenomêno que leva ao absurdo a teoria da relatividade do tempo.

Solução? Não sou de oferecer panacéias ou Somas para você, caro paciente leitor. A farmácia é logo ali na esquina, qualquer esquina. Soluções do tipo, perceba as coisas simples da vida, dê mais sorrisos, aproveite melhor cada segundo como se fosse o último, ajude alguém que precise de você, ame as pessoas ao seu redor, etc. etc. são apenas recomendações tolas, geralmente associadas com o aumento da produtividade no trabalho. A sujeira debaixo do tapete e a casa impecável. Fique tranquilo, estou aqui para levantar a tampa da privada, mostrar os ratos putrefando. É, por isso algo estava cheirando mal.

E tudo fica dessa jeito? Sim, exato. Minha função é incomodar. Ohh?! Não gostou? Ficou desapontado?! Então eu fico safisfeito. Ora, vá ver novela ou futebol. Perca seu tempo, que o meu já se foi.

Cephas
Enviado por Cephas em 18/01/2010
Reeditado em 18/01/2010
Código do texto: T2036056
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